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Sou um leão que faz xixi sentado

Por Sat Meher Singh


Logo antes de iniciar o curso de formação para professores de Kundalini Yoga, as minhas expectativas brincavam com as fantasias que eu criava. “O que será que vou aprender?” Esse era o ponta pé a partir do qual uma miríade de respostas se erguia. Eu ia até onde a minha imaginação me levava e os meus pensamentos projetavam grandiosidades mirabolantes. Eu sentia a necessidade de rascunhar o meu território.


No primeiro dia de aula, ainda nas instruções relativas à dinâmica de funcionamento do espaço, nossa professora orientou que todos deveriam fazer xixi sentados no vaso, inclusive nós, homens. Para ilustrar sua fala, ela recorreu a outro professor que trouxe uma explicação científica sobre a nossa falta de mira. Biologicamente, muitos machos mamíferos, para marcar o território, urinam com um jato em espiral a fim de garantir maior cobertura na área demarcada. Ufa! A ciência explicou a precária pontaria do homem.


Por outro lado, nos confins do subconsciente, o apelo do comboio sócio-histórico-cultural individual protestava ao perceber que um dos pilares da minha pretensa macheza estava sendo abalado: eu vou fazer xixi igual mulher? Diante dessa bobagem, uma resposta sutil, como uma oração noturna, disse muito claramente “sim, você vai fazer xixi sentado no vaso”.


Hoje, depois de aprofundar minha amizade com o Kundalini Yoga, me lembro com orgulho desse episódio e o considero como o primeiro grande ensinamento concreto do curso de formação. Eu aprendi que, ao invés de me perder em elucubrações fantasiosas sobre a consciência, prefiro aplica-la aqui e agora, na realidade. Porque, se a consciência é parte de um território infinito, ela está longe (de forma inimaginável) da mesma forma que está perto (de forma sensível) e da mesma forma que está dentro (de forma concreta).


Junto do nosso nome espiritual, as mulheres recebem a palavra “Kaur” e os homens “Singh” que significam leoa e leão para expressar nossa real realeza. Portanto, hoje afirmo com convicção e destemor que, sim, eu sou um leão que faz xixi sentado. Não busco mais desenhar um espaço externo que eu precise demarcar. Na verdade, o que sinto é isto: o território sou eu e o vaso é o meu trono.

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