Por quê Tantra Yoga Branco?*
por Iêda Ferreira
– Sim, foi um sábado inteiro – respondi sorrindo para os amigos impressionados com meu ar de cansaço.
Mas a ocasião festiva não permitia que eu me estendesse em explicações e, se permitisse, eu certamente não teria a clareza que tenho agora.Agora eu sei que não foi só um sábado de silêncio e busca. Não foi só um sábado de mente quieta, espinha ereta e coração tranquilo. Não foi só um sábado de atividades desafiadoras. Descobri, algumas horas depois de chegar em casa, que foram muitos sábados. Naquele sábado, meus sábados se integraram. Estavam ali todos os sábados em que andei sem rumo, todos os sábados em que perguntei e não obtive resposta, todos os sábados em que me senti magoada, frustrada, ferida, incompreendida, injustiçada. Estavam ali todos os sábados, domingos e segundas-feiras, todos os dias da minha vida. Dias alegres também, dias de conquistas, dias de orgulho, vaidade e cobiça. Estavam ali meus atos, bons e maus pensamentos. Estavam ali, sobretudo, meus sonhos e desejos mais profundos. Quando se mexe com a vida, é com ela toda que se mexe, é com a bagagem, com a memória, com o corpo, com a alma, com a história.
De um jeito muito especial, delicado e sutil, no Tantra Yoga Branco, dia de meditação promovido pela ABAKY, a minha vida foi mexida. Agora, eu inteira sinto isso. Quando estava sentada diante da moça que seria minha parceira de meditação, não imaginava que seria uma desconhecida a me estender as mãos e a compartilhar comigo a descoberta de que eu aguento um grande esforço mais do que penso, de que me comovo profundamente com o outro e de que acredito em mudanças que dispensam explicações lógicas.
Jamais imaginei que seria capaz de meditar por uma hora inteira, mantendo os braços estendidos à frente, enquanto sustentava as mãos de outra pessoa entre as minhas mãos. Jamais imaginei que não me levantaria, imprecando desaforos de rebeldia contra o gesto de muito esforço e pouca lógica. Também não pensei que colocaria o meu dedo na testa de uma estranha e que sentiria bater no meu peito, como afago, a unidade universal. Por 62 minutos, meu dedo indicador pousou amoroso na fronte do mundo que eu atingi.
Será que eu preciso falar de punhos fortes se sustentando mutuamente? Será que eu preciso falar de um relaxamento profundo, tão profundo que a respiração parecia vir da infância, passar pela adolescência e vir subindo, subindo até que, na boca, saia em suspiro de reconhecimento e alívio? Será que eu preciso falar que aguentei sentada mais uma hora de braços estendidos, mais uma hora de mãos se tocando? Sim e está dito. Foi feito. Dei conta.
E, agora, relembro a outra pergunta que os amigos me fizeram: "Por quê?"
Isso eu não preciso dizer. Para saber, é só ler de novo e deixar a emoção das entrelinhas te co-mover.
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Este artigo foi originalmente publicado em Zen Humorado, no dia 11 de setembro de 2013, sob o título "Desafio II - Por quê?"
Leia também "Desafio I - Para quê te quero",
em http://zenhumorado.blogspot.com.br/2013/09/desafio-i-pra-que-te-quero.html
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