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[GSK] Transformando raiva em combustível

Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa em 12 de agosto de 2016


[GSK abre a aula]


O tema que hoje vamos trabalhar é a raiva interna. E eu queria falar rapidamente sobre a raiva interna com vocês, para vocês levarem isso aos seus alunos. A raiva faz parte daquele conjunto das emoções primais. E as emoções primais estão em nós e acompanham o nosso cérebro animal. O cérebro animal não é o nosso cérebro mais evoluído, muito embora seja o que nós mais usamos. Então, não tem jeito de você não ter raiva, é inerente à condição humana. Muitas pessoas processam a raiva de modos diferentes, existem várias maneiras de processar. As duas maneiras mais comuns de processamento da raiva estão ligadas à maneira como o cérebro animal processa essa emoção. Ela vem desse cérebro, que foi evoluído antes do sistema límbico, e uma dessas duas maneiras principais é a externalização desse sentimento, que também pode variar. Por exemplo, tem pessoas que explodem e outra que são cínicas. Então, a maneira como você verbaliza essa raiva ou age é que diferencia de pessoa para pessoa, mas o fato é que uma das maneiras é você colocar para fora. E a segunda maneira é colocar a raiva para dentro. Você não verbaliza e não age, mas você introjeta esse sentimento.


Essas duas maneiras de processar a raiva são altamente ineficientes. Embora socialmente o modo dois seja mais aceito, quase enaltecido. Porque a pessoa não parece grosseira, não parece irada, ela simplesmente engole. Então essa pessoa vai, de uma maneira ou de outra, ter de processar essa raiva. Os dois mecanismos que acontecem para ela processar são: ou ela adoece ou ela, um dia, eclode, explode, vulcaniza. A grande parte das doenças degenerativas mais graves vêm dessa raiva não processada, especialmente dessa raiva que implode a gente. E no Kundalini Yoga, o Yogi Bhajan explicava que a raiva que você põe para dentro é fonte de muitas doenças relacionadas ao DNA, como câncer e doenças autoimunes. E a raiva que você põe para fora é responsável por doenças cardiovasculares. Todas as vezes que a gente sente raiva é uma resposta à ameaça de o ego perder o poder. Quando a gente trata a raiva com nosso sistema límbico, natural, automático, nós estamos mostrando que estamos muito pouco evoluídos. E a maioria de nós, esmagadora, processa a raiva dessa maneira.


Existe um mecanismo muito sutil que é uma manipulação que os Kundalini Yogis costumam fazer para parecer que estão processando a raiva de maneira muito inteligente e madura, mas ainda é uma coisa terrível. Vocês intelectualizam o sentimento, criam uma série de intrigas mentais e explodem de uma maneira intelectual. Vocês vêm com toda uma verborreia para poder julgar e colocar para fora. Ir por esse caminho é um pouquinho pior, porque você está sabendo que seu ego foi atacado, que você está reagindo de maneira inadequada, mas você faz uma maquiagem para parecer que você está muito no controle e você está muito espiritualizado. Isso é pior, porque é uma corrupção. Essa é pior do que uma pessoa que perde o controle. Ela está ignorante. Na hora em que a gente começa a fazer esse tipo de maquiagem, aí só o Guru salva, só o Professor salva. Por isso, tantas vezes o Siri Guru Grant Sahib tem essa frase: só o Guru salva. Porque você precisa ter uma pessoa que seja altamente neutra, que não se engancha de jeito nenhum com aquele mecanismo e é capaz de dizer: "olha o que está acontecendo". É isso que vocês precisam ser para os seus alunos, essa instância totalmente neutra. Não necessita de nada mas que pode servir à consciência do aluno. Essa aula que vamos fazer hoje é para liberar um tanto dessa raiva para que a gente possa criar caminhos neurais de operar através do mecanismo mais superior do nosso cérebro, que é o sistema do córtex cerebral, da matéria cinzenta, quando a gente sente a raiva e detecta a raiva, entra nela e percebe onde está e aplica a sua inteligência, aplica a sua consciência. Você, então, transforma, processa. Você não vai reagir à raiva, explodindo ou colocando para dentro, você a transforma num combustível.


Quando a raiva é processada nas vias neurais mais superiores, ela se torna um combustível, uma força para a sua inteligência. Isso acontece demais quando o aluno faz uma pergunta que provoca, aí você sente a raiva e começa a responder com aquela força que vem da raiva e transforma, você continua usando a força, mas você é incapaz de reagir, você só vem para alavancar. É a medalha de ouro das olimpíadas yóguicas, quando você vai até o aluno com aquela força que veio da raiva e serve o aluno. A raiva é uma das emoções que a gente mais precisa conhecer porque ela nos ensina a amadurecer. Vocês precisam poder falar sobre isso com seus alunos porque quando a gente fala a gente processa, a gente aprende demais. Quero muito que vocês falem sobre a raiva com os alunos de vocês. E aqui em Belo Horizonte, a nossa Sangat é praticamente formada de gente do fogo. É gente da raiva. Praticamente, é o tônus. Se nós tivéssemos de pegar em armas, a gente pegaria. É impressionante, tem sangats que são totalmente da água, só emoção. Então a raiva é um elemento que está presente aqui. Gente de muito ego, mas que pode muito bem transformar essa força. Quando o Yogi Bhajan deu essa aula em 1988, ele tinha acabando de tirar aquela sangat dos Estados Unidos do ar. Ele precisou de quase 20 anos para imprimir neles a experiência do fogo, da raiva.


Aluno: A meditação Bhand Jameeai que é para o feminino. Também é para a raiva. Tem uma relação?


Não existe ser na terra mais raivoso do que a mulher. E o Bhand Jameeai é uma meditação para a mulher, para a força feminina. A mulher tem muita raiva. Porque ela tem um vulcão dentro de si, ela tem útero. Ela tem de transformar nada em uma criança. Ela faz isso. Todo mês a gente produz uma matéria-prima. Então a mulher tem muito fogo, portanto muita raiva. Se deixar uma mulher na raiva destruir alguma coisa, ela destrói aquela coisa e mais o mundo inteiro. Nós somos um fogo vivo e é só por isso que a gente concebe. Os homens não têm muita raiva, eles têm outras coisas, não a raiva.


Aluno: A antítese da raiva é o medo, então geralmente quem tem mais medo tem menos raiva?


Eu nunca pensei em correlacionar dessa maneira, porque medo, raiva e ciúme são as três emoções básicas, e o medo é a experiência masculina, e a raiva a experiência feminina. O homem tem muito mais medo do que a mulher. A história do homem é outra história, e o dia em que a gente for falar do medo a gente fala do homem. Vamos começar?


Kriya for Relieving Inner Anger, do Manual I am a Woman, p. 74.


Yogi Bhajan falava que entraríamos num período cinzento no planeta de 2012 até 2028, que seria o período mais difícil da entrada da Era de Aquário. Então até 2028 fica parecendo que está tudo muito doido e a gente quer voltar para a Era de Peixes. Haveria muita insanidade, muito desajuste. E a meditação é para nervos fortes e mente clara.


[GSK encerra a aula] May the long time sun shine upon you


Queria finalizar a aula fazendo agora uma leitura do modo adequado de lidar com a raiva. Para um yogi ou para uma pessoa que quer viver a experiência da consciência, o que ela mais quer é ser provocada para, quando isso acontecer, ela pensar como ela vai reagir. Isso é o máximo da liberdade. É de não reagir à provocação, mas poder fazer uma escolha diante da provocação. Vocês compreendem isso? Raramente a provocação vem em vão. Quando a gente é provocado, raramente não existe uma razão de ser. Mesmo quando ela é absolutamente injusta, ela tem uma razão de ser, que é testar a nossa humildade. É aquela famosa história de que nada acontece por acaso. Então quando vocês estiverem experimentando a raiva, vocês vão saber se de fato você estão dando conta de lidar com aquela situação da consciência, se vocês não forem sequestrados pelas circunstâncias. No momento em que vocês reagirem, vocês foram sequestrados pelas circunstâncias, você está preso na circunstância. O que nós queremos é, diante de uma situação, ter a liberdade de fazer uma determinada escolha, de como nós vamos reagir. Para isso, o Yogi Bhajan ensina que nós deveríamos ter, pelo menos, nove segundos antes de reagir. Nove segundos. A raiva é uma emoção primal. Acontece que muitos de vocês têm a raiva, contam os nove segundos, se é que contam, reagem ou agem, aí vão para casa ou para o carro ou para o banheiro ou para onde for, e começam a repetir o filme e aí começa de novo o vulcão a entrar em erupção. Quando vocês começam a repetir o filme e começam a se encher de novo de fogo e de raiva, isso gera um outro tipo de emoção que, no Kundalini Yoga, o nosso grande professor Yogi Bhajan disse que são as emoções que fluem. Quem fez o programa de “coaching” sabe disso. Há as emoções básicas que são as primais, primatas e depois há as emoções que fluem, que são as que carregam você ao longo do tempo. Quando você sentiu raiva, você gerencia aquela raiva, você não quer parar de sentir raiva. Por quê? Quando vocês estão fluindo no fato, o ego de vocês é que está reagindo, pois não consegue admitir que levou uma rasteira. Ele coloca um tanto de intrigas mentais, que são aquelas que fazem a emoção fluir. E você fica ali, alimentando aquele negócio para o vulcão voltar a ferver. Na hora que o vulcão voltar a ferver você tem a chance de finalmente fazer valer o seu ego.


As emoções primais são totalmente úteis, as emoções que fluem são totalmente inúteis. Porque são as que vêm das intrigas mentais. A gente combate as emoções que fluem, quando a gente acabou de ter uma emoção primal, a gente reverte essas emoções inúteis utilizando as emoções que florescem, que expandem, que são uma construção se não consciente, é uma construção cultural. Ou seja, são emoções que vêm dos valores éticos, mais universais, são emoções que expandem a gente. Expandem a gente para além do ego. Típica emoção desse caso, que são construídas a partir dos valores da alma. Gratidão, compaixão, humildade, o bom humor.


As emoções que florescem vêm da alma, elas vêm desse lugar da ética, dos valores universais. Mesmo que você acha que está certo, que foi injustiçado, mas rende a cabeça, diga "ok, deixe ver o que eu tenho de aprender", "desgraceira, o quê que eu tenho que aprender". Tem um conflito interno, não tem problema. É o ego e a alma num confronto. O que mais estraga o nosso amadurecimento são as intrigas mentais, que ajudam nas emoções que fluem, que a gente faz drama. Nós estamos numa cultura extremamente dramática, e isso complica porque aí temos muito mais uma tendência às emoções que fluem porque se nós fôssemos alemães, por exemplo, ou nórdicos, não teríamos essa cultura do drama, não teríamos as emoções que fluem, teríamos as primais, mas não têm as que fluem. Mas nós brasileiros temos também uma coisa muito boa, que é que não guardamos rancor. Não guardamos rancor. Se fosse aqui uma turma de indiano, indiano é mil vezes pior que brasileiro. Eles têm emoções que fluem, fluem demais, um drama desgraçado e guardam muito rancor. Nós, por uma configuração divina, não guardamos rancor. É muito incrível estudar essa dinâmica, esses comportamentos humanos inseridos dentro da cultura. Essa meditação é boa, talvez para o dia que você sentir que está perdendo o controle, medita. Que você readquire o controle. Não precisa ser com mantra. Aliás o original não tem mantra nenhum, pode ser no silêncio. E sempre alertas, porque vocês querem ser livres para fazer a escolha do seu comportamento.


Sat Nam!


[Transcrição Sada Ram Kaur]


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