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[GSK] Qualificando o tédio

Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa em 28 de abril de 2017


[GSK abre a aula]


A gente vai fazer um trabalho hoje para o sistema glandular. Fiquei em dúvida em fazer uma aula muito simples, para conectar a realidade física com a realidade celestial, mas achei muito sessão da tarde para vocês. E me decidi por essa aula. Tem uma coisa sobre o sistema glandular que é o seguinte: na medicina, o sistema glandular é visto como aquele que media basicamente a nossa vida inteira. Isso não é feito pelo sistema nervoso. O papel do sistema nervoso é colocar o mundo para dentro de nós, para não ficarmos isolados. Basicamente isso. Numa linguagem muito técnica e simples é isso que o sistema nervoso faz. Sem ele, nós somos autistas, sem conexão com o mundo. Mas sem o sistema glandular, o mundo entraria e nós não faríamos nada, nossa resposta para o mundo seria uma resposta incongruente. O sistema glandular é uma inteligência que faz com que o mundo que você pôs para dentro seja metabolizado e haja uma resposta. Se a gente não tivesse esse sistema ativo, nós seríamos todos um caso de esquizofrenia. O mundo entra e eu o processo sem congruência, eu não tenho uma identidade.


No Kundalini Yoga, o fato de nós darmos atenção suprema ao sistema glandular é porque ele cria em nós a tal identidade. Sem ele não haveria identidade. Isso é uma maravilha. O sistema nervoso põe o mundo para dentro e o glandular cria uma resposta, uma identidade nossa em relação ao mundo que entrou. Existe uma diagonal que a gente vai trabalhar e eu quero que vocês a compreendam. Essa diagonal que perpassa o sistema nervoso e o glandular é a diagonal do nosso desenvolvimento espiritual. Vamos entender esse desenvolvimento espiritual como nossa maturidade espiritual. Ela é uma tangente que vai passando pelo sistema nervoso e pelo sistema glandular. Essa maturidade espiritual se faz presente em nós, quer dizer, vamos amadurecendo mais e melhor espiritualmente à medida que sua identidade dialoga com o mundo que você põe para dentro. Quando esse diálogo é muito pobre, quando a mediação do mundo que você pôs para dentro e a resposta que você deu ainda é baseado em clichês, em ideologias, você não existe como ser maduro espiritualmente. Porque o que determina a sua resposta é muito mais o meio externo do que o meio interno.


Na tangente, somos um reflexo determinado pelos parâmetros externos, então nosso sistema nervoso capta tudo e não é capaz de fazer nenhum tipo de filtro, ou seja, não existe a mente neutra; você só reage ao meio. E o seu sistema glandular reponde fortemente ao meio. E à medida que você vai apanhando ou se frustrando ou se você tiver a sorte de ter um professor que te confronta e não só te elogia, você vai passando, crescendo e esse vetor da sua maturidade espiritual vai ficando cada vez mais complexo. Não que as coisas fiquem mais fáceis. Elas não ficam mais fáceis porque seu sistema nervoso vai se fortalecendo e você vai absorvendo mais a realidade, muito mais do que antes, que era o núcleo daquilo que você queria ver, o núcleo da sua ideologia, você vai absorvendo muito mais contradição.


Nós estamos nesse momento no Brasil. Não está fácil, se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. Cada vez mais, você tem uma realidade mais complexa e mais contraditória, parece que todos os elementos estão ali para te enlouquecer, essa complexidade. Se a sua reposta a essa absorção for: "eu vou selecionar e ver as coisas apenas numa perspectiva que me traz segurança", ainda polarizado, você parece que desenvolveu uma maturidade espiritual, parece, mas ainda você força uma interpretação da realidade. Nesse estágio, acontece uma coisa muito especial na nossa meditação: nossa entrega a um processo meditativo. Quando você sai da base e vai para o meio, é uma grande jornada, você encontra muita coisa nova, é mais ou menos quando você começa a fazer os módulos do nível dois, Sat Nam Rasayan, você vai sendo colocado diante de muita novidade, muita técnica que te estimula a crescer. Então quando você chega no meio da jornada, há uma estagnação. Parece que nada está acontecendo conosco, parece que não faz mais sentido repetir o nível dois, ou fazer Sat Nam Rasayan, nem Yatra nenhum. Tudo que era uma novidade e te levou do início para o meio do caminho dá uma estagnada, parece que você está perdendo seu tempo, dá um cansaço. Esse é o lugar em que você precisa simplesmente não arranjar sarna para coçar, como se diz em Uberlândia. Se isso acontece, se você procura algo completamente diferente, como uma pessoa que chega sexta-feira em casa, está superexausto e toma um whisky, para ter um estímulo, para ver se os hormônios respondem do mesmo modo que antes. Essa conversa é muito importante porque eu sinto que muitos de vocês estão nesse lugar. É muito importante vocês aceitarem a monotonia e o tédio daquele platô e ficarem ali, pois é nesse tédio e nessa monotonia que vocês estão gerando o prana, fazendo uma pausa para o sistema da gente ganhar outro tipo de calibre e outra qualidade neuroendócrina para você começar a viagem de novo.


Então aqueles que sentem um tédio e começam uma outra jornada, vão começar lá no Saram, lá embaixo. Até você adquirir a maestria que o Shakti Pad dá, vai demorar demais. Compreendam a necessidade de entregarem a cabeça nesse estágio do meio. A rendição aqui não é aritmética, ela é logarítmica, ela dá um salto, por isso é muito importante vocês qualificarem o tédio. Anos atrás, acho que em 2005, eu olhava a minha condição e pensava que estava presa, que nunca mais poderia deixar de ser uma professora de Kundalini Yoga, achava um horror! Eu me sentia presa, sem poder largar ninguém, presa. Eu pensava que tinha virado uma condenada por esse povo! Era uma sensação horrível, era meu tédio. Eu me sentia condenada. Eu nunca mais ia poder fazer o que eu queria, rodar a baiana... Então, quando vocês chegarem no ponto em que a complexidade do mundo é enorme, mas sua capacidade de dar respostas sem filtro é maior, seu sistema endócrino não estará mais a serviço das suas ideologias, ele estará a serviço dos seus conceitos abrangentes da alma. É muito diferente. Ter um sistema endócrino que responde nesse nível é maravilhoso.


Kriya: Move the Glandular System, do manual Infinity and Me


Relaxamento


* Não houve meditação.


Há uma frase do Yogi Bhajan que explica bem esse nosso tema de hoje: “você precisa entender que você é uma flor de lótus num pântano imundo. E você não pode deixar as suas pétalas se sujarem.”


Se em 2005, eu comentasse com cada aluno ou amigo da Sangat que eu estava aprisionada, eu teria deixado as minhas pétalas se sujarem com a lama. E era 2005. Hoje estamos em 2017. Vocês não podem deixar as suas pétalas se sujarem com o resultado de seu processamento do mundo. Existe um prazo natural para a gente passar pelo Shakti Pad, mas se você reside lá por tempo demais, você se acostuma àquele negócio. Às vezes me surpreendo com vocês me dando notícias que ainda então lá. Ninguém pode tirar vocês desse lugar, vocês é que têm de caminhar para fora dele. Mas a instrução aqui hoje é só para vocês se lembrarem que existe um tédio, esse tédio que exatamente consolida. Você aprende a não deixar as suas pétalas se mancharem com as águas putrefatas desse pântano, onde estão as suas raízes. Eu espero que isso faça sentido para vocês e que compartilhem com seus alunos. Nunca subestimem o lugar em que seus alunos estão. Seus alunos podem estar num processo muito adiantado. Não deixem de compartilhar com eles esses elementos que fazem sentido e ajudam as pessoas a compreenderem a se relacionarem com elas mesmas.


Eu agradeço demais a presença de vocês aqui hoje. Imaginei que teriam poucos alunos, e a gente ainda foi abençoado por essa chuva. Foi uma aula muito especial de fato. Nos dias mais duros, se a gente se encontra em Sangat com o coração aberto, a gente tem as maiores bênçãos.


May the long time sun shine upon you...


* Os dias 14 e 21 de abril não tiveram aula por causa dos feriados da Semana Santa e Tiradentes


[Transcrição: Sada Ram Kaur]


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