[GSK] Permanência na Relação
Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa em 7 de fevereiro de 2020
[GSK abre a aula]
Entraremos no tema da compaixão para compreendê-la na prática e sem confundi-la com complacência. O sentimento de compaixão é o que move a alma a se prestar a encarnar. Pela compaixão houve esse acordo. Senão, não faria sentido vir para esse plano.
Como podemos restaurar o sagrado para que a compaixão ocorra naturalmente em nós, sem que tenhamos necessariamente que virar freiras e frades? O que é essa qualidade do trabalho de hoje? É a capacidade de permanecermos na relação.
Yogi Bhajan dizia que quando estabelecemos uma relação, qualquer que seja, a primeira coisa que surge espontaneamente em nós é um conjunto de preconcepções. Quando erguemos em nós um conjunto de pré-ideias sobre o outro, desacoplamos da capacidade de estar em compaixão.
No Sat Nam Rasayan, por exemplo, isso é a base. Se estamos em shuniya, e estabelecemos uma relação qualquer – com uma coceira, uma dor ou um incômodo –, imediatamente a analisando ou julgando, acabou. Desacoplamos da relação.
No Kundalini Yoga, a primeira condição para se estabelecer compaixão é ter a paciência e a capacidade de permanecer na relação. No momento em que julgamos, perdemos a conexão. Para ter essa capacidade de não entrar no fluxo de interpretações e preconceitos, logo diagnosticando, criticando, ou mesmo amando demais, e permanecer na relação, permitindo-a, temos que ter os dez corpos completamente em relação uns com os outros.
A aula de hoje é para os dez corpos. Trabalharemos naturalmente as três gunas, mais do que os cinco tattvas, pois na meditação seremos capazes de entrar em sutilezas que não estão mais nesse plano, mas no primeiro éter. Yogi Bhajan dizia que podemos ancorar o nosso estado meditativo até o terceiro éter – o terceiro éter é muito profundo, é muito além. Mas se conseguirmos permanecer em relação, em nosso espaço sagrado, até nos conectarmos ao primeiro éter, estaremos em contato com outros tattvas além dos nossos cinco.
Kriya: Fortalecendo os dez corpos
Se não rejeitamos a relação, se ela se torna um vichar. Isso nos ajuda imensamente a alcançar as melhores coisas que temos para alcançar, segundo o destino para o qual escolhemos encarnar. Quando temos esse vichar começamos a estabelecer uma relação muito compassiva com o espaço da vida. Nesse campo, nada que surge para nós é bom ou ruim. Temos a tendência de manter relação com coisas que são boas, e temos um instinto de defesa de rejeitar as coisas que são ruins, segundo a nossa interpretação. Ao fazermos isso desconectamos da alma e ficamos sós. Dessa forma a jornada se torna mais difícil. No modo solo muito do que, aparentemente, não seria algo bom para nós no modo alma, acaba sendo exatamente o que precisamos.
Por exemplo, tenho uma característica de ter nascido com o presente na mente neutra. Normalmente não rejeito o que chega. Essa é uma capacidade grande de entrega. Em uma ocasião, esperei pelo menos sete anos para conseguir entender e realizar o que queria. O máximo que uma pessoa da academia pode imaginar, quando está querendo fazer o seu doutorado, é ir para onde ela já é reconhecida. No meu caso, quis ir para a Inglaterra, porque meu mestrado era muito usado no departamento de epidemiologia da London School. E ganhei um “não”. Ganhei um “não” três vezes. Três anos se passaram e alguém me falou para ir para a Alemanha. Por que não? Fui. Cheguei lá e o ideal era que eu fosse para Göttingen. Dentro do trem, faltando uma hora para chegar em Göttingen, recebi um telegrama me mandando ir para Freiburg. O que fazer? Rejeitar a relação? Fui para Freiburg. Chegando em Freiburg, o ideal seria que me mandassem para um curso de alemão que me preparasse para um exame específico de proficiência. Mas me mandaram para um curso básico de alemão. Dois meses depois me avisaram que eu estava no curso errado e que a minha turma já estava fazendo o exame de proficiência. E cada uma dessas coisas tinha uma razão. Cheguei no exame de proficiência e percebi que não estava entendendo nada. Mas na hora de fazer o pré-teste, aconteceu dele ter sido feito para mim, literalmente. Um presente do Guru.
Chega o ponto em que vamos entregando e seguindo o fluxo, sem rejeitar, até que, finalmente, somos premiados. O que tinha que acontecer, aconteceu. O teste passou. O teste é não rejeitar a relação. Para cada um desses “nãos” que recebi, havia um “sim” gigante, concreto, palpável. Se eu não fosse para Freiburg, não conheceria a minha irmã e, consequentemente, minha mãe indiana. Eu não teria feito a ponte para o meu destino. Se tivesse ido para Londres, com a raiva que tinha dentro de mim, teria feito um belo doutorado, ficado muito famosa e coisa e tal, e teria continuado desacoplada da minha alma.
Existe um lugar em que é preciso abraçar esse vichar. Os dez corpos são para isso.
Meditação: Laya Yoga
Laya quer dizer projeção. Para nós, na condição de professores, é alcançar o terceiro éter. Para tal não podemos entoar em Dó, em Ré ou em Mi. Tem que ser em Fá.
A partir da semana que vem resgataremos o renascimento. A nossa busca é restaurar o sagrado através da reconexão com a compaixão. Para isso teremos que ter muito Shakti. A compaixão é Bhakti, pura devoção. Contudo, sem Shakti não conseguimos deixar de rejeitar. Estamos vivendo um momento na vida que temos coisa demais para treinar a não rejeitar. Porque há muito mais coisas para rejeitar do que para aceitar. Mas, se fizermos isso nos tempos atuais, nos iluminaremos.
“May the long time sun shine upon you....”
[Transcrição: Karamjeet Kaur]
[Edição: Nav Amrita Kaur]
Tags: aulas gurusangat relação compaixão dez corpos entrega vichar
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