top of page

[GSK] Os ciclos ultradianos e o processo intuitivo

Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa em 14 de setembro de 2018


[GSK abre a aula]


Hoje estamos celebrando a primeira vez que Yogi Bhajan pisou no solo do ocidente, em 1968. No site do Sikh Dharma International há um artigo muito divertido sobre essa chegada através do relato de um professor de uma universidade em Toronto. Se quiserem ler vocês verão o quanto Yogi Bhajan era cara de pau. Ele tinha tanta autoconfiança que não via o menor problema em fazer o que tinha que ser feito. Uma autenticidade e uma força muito grandes. Sugiro que leiam, é muito especial.


Retomando nosso tema, hoje vamos falar de outro órgão que está relacionado à intuição, que creio que jamais suspeitariam. Já falamos demais do cérebro, mas não é só ele que está em jogo. Um dos órgãos mais importantes para a intuição é o nariz.


Aluna: É como aquela expressão “isso não me cheira bem”.


GSK: É isso mesmo! Tem algo importantíssimo para saberem. É uma coisa que os iogues sempre souberam, mas que a confirmação clínica ou médico-científica passou a dar maior respaldo a partir de uns trinta ou quarenta anos. Existem três ritmos do corpo que regulam os nossos sistemas nervoso, endócrino e imunológico. Esses ciclos são determinados por fases de tempo – não de produção hormonal, mas de tempo mesmo.


Temos os ciclos baseados em 24 horas, os chamados ciclos circadianos. Qual é a glândula que muda a cada 24 horas, que depende do sol? A pineal. A cada 24 horas ocorre um novo ciclo do corpo. Os ciclos infradianos são aqueles de mais de 28 dias. O quê muda em 28 dias? O ciclo menstrual. Também estão incluídos nos ciclos infradianos os ciclos hormonais dos homens e das mulheres quando entram na menopausa ou na andropausa. São ciclos muito maiores do que meses ou anos. E temos os ciclos ultradianos, que são aqueles que nos interessam e ocorrem a cada 90 a 120 minutos. Nesse ciclo de tempo, ocorre uma mudança completa dos nossos sistemas nervoso, endócrino e imunológico.


Olhem só que interessante! Todas as tradições religiosas antigas e que se preservaram sabiam que havia um desses ciclos ultradianos que se dava especialmente às 5h da tarde. Yogi Bhajan sempre dizia para homens e mulheres que, no momento em que ocorre uma transição hormonal, deixamos de produzir hormônio com base em açúcar e passamos a produzir hormônio com base em gordura. Esse horário entre 4h e 6h da tarde é um momento em que o nosso corpo faz isso. Tudo abaixa. A energia, a atenção, o vigor... Nesse momento de grande baixa há uma transição desses ciclos e é nessa transição, momento em que os sistemas nervoso, endócrino e imunológico se desligam, que a intuição mais aflora. Esse é o intervalo que as grandes tradições religiosas indicam para as pessoas rezarem. Os cristãos tem a hora do ângelus, os mulçumanos tem a hora em que eles vão para as prostrações, os judeus vão lamentar. É um momento em que o corpo pede para sairmos do mundo e nos envolvermos com a nossa intuição, para emergirmos e nos integrarmos ao espírito.


No yoga, temos exatamente essa cadência, a cada 90 a 120 minutos, quando a atividade das narinas se alterna. O nariz é o órgão dos ciclos ultradianos que mais nos leva ao processo intuitivo. Esse ciclo é muito diferente daquele de 24 horas, de dormir e acordar. A cada duas horas e meia temos a chance de fazer essa tomada intuitiva. O que os iogues fazem? Quando estamos trabalhando e já se passou uma hora de trabalho, se ficarmos atentos, sentiremos como se tivéssemos “fritado”. Não conseguimos mais nada, mas insistimos naquele momento; às vezes tomamos uma água, voltamos e continuamos. O ideal seria fecharmos os olhos naquele instante e simplesmente contemplarmos. Neste caso, o que tomará conta de nós é o processo intuitivo.


Experimentem isso a cada duas horas e meia. Os médicos não entendem o que acontece no cérebro nesse momento, os iogues também não. Mas sabe-se que nesse período em que as atividades das narinas se alternam, a cada uma hora e meia, duas, no máximo, o cérebro se desliga inteiro e uma parte dele se ativa: a famosa pineal, com a sua produção de DMT. Não se trata de produzir DMT como se estivéssemos meditando, mas de produzir uma sensação, como se a pineal começasse a querer produzir. Aí temos um estado mental em que é propício fecharmos os olhos e não há como pensar em nada. Uma das características desse período é que ele é ínfimo, é muito curto. São poucos minutos. É como se o cérebro se retirasse e então não há atividade nas mentes polarizadas. Os iogues consideram isso uma morte que se dá a cada duas horas.


Vamos fazer um kriya para a coordenação dos hemisférios, portanto, um kriya de coordenação motora. Para as trocas de narinas se tornarem mais evidentes é necessário uma atividade nossa extremamente vigorosa, seja ela intelectual ou física. Aí pode-se sentir. Quem passa o tempo contemplando, com preguiça, com pouca atividade ou com letargia, não tem essa transição tão marcada. É preciso que haja uma atividade física, intelectual ou mental, para que possamos aproveitar essa baixa. Assim sendo, na baixa lembrem-se de não tentar levantar seu corpo artificialmente. Na baixa assentem-se, recostem-se e contemplem. Faremos isso hoje na meditação.


Kriya: Comunicação entre os hemisférios, do manual Expanding Intuition


Meditação: Meditação para a visualização do nariz, do manual Expanding Intuition


Gostaria de comentar um aspecto importantíssimo que o Yogi Bhajan nos lembra de todas as maneiras, várias vezes, que é o antídoto – caso precisem de um antídoto contra a intuição. A mente tem uma capacidade impressionante de nos fincar no finito. Ela tem a capacidade de tanto nos carregar para onde quisermos quanto de nos fincar no finito. A capacidade dela de nos fincar no finito é muito mais automática do que a de nos mandar para o infinito. Se não fosse assim, seria muito difícil para nós vivermos e certamente não estaríamos aqui. Mas a capacidade de a mente nos colocar no finito é muito perigosa porque deveria ser contrabalanceada com a capacidade de expansão, que é da sua natureza. Se não quiserem a intuição de jeito nenhum, o antídoto é entrarem numa situação em que afirmam “isso é meu”, “isso sou eu”.


Todas as vezes que disserem “isso é meu”, “isso sou eu”, “isso que é meu me define”, acabou a intuição. A influência desse tipo de alegação das mentes polarizadas é o que é precisamos para criarmos um grande apego, um grande vínculo. E, assim, a jornada da nossa existência passa a ser uma experiência de tremenda dor e confusão. Se sentirem uma necessidade de se redefinirem, saiam o quanto antes do “isso é meu”, “isso sou eu”. Quando nos circunscrevemos em nossa finitude dessa maneira é porque não estamos podendo ou não estamos querendo transcender. Se não estamos querendo ir além, a pineal é desligada instantaneamente. E precisamos então de hormônio e de um funcionamento psíquico que nos encarcere naquilo que definimos como nosso eu. Isso vai desde “esse é o meu problema” ou “eu sou o meu problema” a “essas são as minhas coisas e elas me definem”.


Uma das maneiras excelentes para quebrar isso de modo bem prático é sair desse lugar e doar. O ato de doar causa uma transformação muito radical no ambiente da pineal porque demanda imediatamente uma transcendência. Transcendência do medo, do “isso é meu”, do “isso define como eu vou fazer”, de toda essa finitude. Por esse motivo, existe em todas as boas religiões a doação como prática. É uma técnica muito antiga de todas elas, com a finalidade comum de transcender o medo e a finitude.


A meditação que fizemos hoje é uma forma de transcendência, o Kirtan Kriya. Ele é feito para ajustar de tal maneira o ambiente entre o finito e o infinito que cria um equilíbrio desses dois pólos e aumenta demais o processo intuitivo. Deveríamos ter 20% de finito e 80% de infinito, nessa proporção. Vinte por cento, o suficiente para cumprirem seu dharma e pagarem seu karma. Como estar aqui no finito é muito doloroso, pensem bem! Se passarem mais de 20% nesse finito vocês se destroem. É preciso ter uns 80% de transcendência, de superação, de corpo radiante.


No Kundalini Yoga, sempre que abraçamos uma causa que vai muito além de nós mesmos estamos insuflando esses 80% e promovendo a nossa produção de DMT. Vocês devem descobrir o que em vocês os prende na finitude. Há alguns padrões que fazem isso. O medo é um, a desculpa é outro, a ansiedade ou a depressão são outros. Padrões que nos prendem na finitude.


May the long time sun shine...


[Transcrição: Devaroop Kaur]

Comentarios


Receba nossas atualizações

Categorias
Posts Recentes
Arquivo
Tags
bottom of page