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[GSK] O silêncio dos ruídos

Por Gurusangat Kaur Khalsa (Outubro de 2016)


Na psicologia, foram as pesquisas de Mihaly Csikszentmihalyie que trouxeram para o debate acadêmico o conceito de “fluxo” para explicar felicidade e criatividade. Estar no fluxo é um estado bem próximo do que no Kundalini Yoga denominamos estar em shuniya.


Estar no fluxo segundo a psicologia: É um estado mental de foco máximo e dedicado a uma tarefa (ação) onde a interação entre o sujeito e sua ação é tal, que o senso de identidade é perdido. Você se encontra em algum lugar e sente uma conexão com algo maior, e perde toda e qualquer referência de tempo e espaço, inclusive perde sua identidade psicológica.


Este estado é o que mais remete à realização e ao sucesso, pois nele a ação humana é plena e impecável, o leva a grande assertividade e felicidade.


Estar em Shuniya: Um estado que se alcança quando não se busca coisa alguma, especialmente quando não se busca o silêncio ou a paz. A paz, assim como a felicidade, não pode ser buscada, porque elas não existem enquanto entidades em algum lugar lá fora. Essas duas condições residem internamente no ser humano. Portanto, estar em paz ou estar em silencio não prescinde de qualquer outra condição a não ser estar no fluxo.


Qual fluxo? Seria dos pensamentos? Não. Seria, então, das ideias? Não. Simplesmente estar no fluxo de tudo que há e do que é desconhecido. Por isso, me agrada o conceito de estar no fluxo do desconhecido. Quando tudo a sua volta, todos os ruídos e sensações não são capazes de perturbar sua expansão e conexão com o todo, independente de se estar ou não em paz, dizemos que estamos em shuniya – o silêncio dos ruídos.


Em shuniya, a paz e a felicidade existem como água nas boas terras de veredas.


Não sei se você notou o detalhe descrito acima. Ele é fundamental para compreender Shuniya, ou o fluxo - “independente de estar ou não em paz”. Isso é radical! Perdemos tempo valioso buscando a tal paz e silêncio para experimentarmos, como sua consequência, esse vazio criativo. Mas, em realidade, tudo que precisamos fazer é saber como alcançar shuniya independente das tormentas em nós ou a nossa volta. Para mim isso é fundamental, pois me é claro que de nada me vale a minha paz enquanto houver alguém em sofrimento. Como não condicionar minha experiência de plenitude a uma paz e silêncio que raramente são atingidos?


Há apenas uma maneira. A técnica associada ao prazer de fazer algo. No Kundalini Yoga, utilizamos para esse treinamento a meditação com o Naad (sons primais). Na vida, o treinamento se dá quando realizamos algo que temos máximo gosto associado a grande competência.


Estar em Shuniya ou no fluxo é a única forma de liberdade possível.

A liberdade de Shuniya:

Enquanto houver pensamento não haverá liberdade. Essa afirmação pode ser desesperadora para muitas pessoas amantes da liberdade de pensar. Todo tipo de pensamento surge de um condicionante, seja ele intelectual, cultural, ideológico ou mesmo fisiológico. Portanto, para a ciência do Yoga, só existirá liberdade quando não houver qualquer conexão entre a consciência e os pensamentos.


Não é possível parar de pensar, isto é um fato. Pensar é, justamente, um dos grandes atributos da mente. Entretanto, estar além dos pensamentos é um caminho plausível e passível de aprendizado para experimentar um estado livre. Apenas quando formos capazes de existir no fluxo da integração entre o eu e o desconhecido é que poderemos dizer que estamos de fato livres. Este eu não é, obviamente, nossa identidade aculturada ou social. Este eu é, segundo os Ensinamentos do Kundalini Yoga, a identidade real, cósmica. O eu real (real self) é aquela expressão viva e em ação de uma psique, que se tornou atemporal e universal.


Nesta condição, se é livre porque não se pensa em ser algo; não se busca uma identificação. Esta condição oferece a mais genuína oportunidade para o por que nela nos relacionamos com o inominável, um tal campo que nos leva a criar.


O fluxo é sempre criativo. Essa arte tem valor porque ela é inaugural e fresca. Seu frescor é como terra úmida propícia a todo tipo de crescimento e entregue a saciar e refrescar a todos.


Ser livre não é dizer o que pensa. Ser livre é fazer o que jamais foi pensado!

Seguir em meio ao caos e agindo como núcleo criativo da vida é o que fazemos.

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