[GSK] Expandindo o ser interno
Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa em 2 de junho de 2017.
[GSK abre a aula]
Nós vamos trabalhar a aula "Criando o campo eletromagnético para expandir o ser interno" (título traduzido do inglês). Sempre tive um pouco de dificuldade de traduzir o Self, porque em português, tirando a literatura muito específica da área da psicologia, a gente não usa esse termo, e na psicologia acredito que quase não se traduz; não é o ego. E é isso que hoje vou tentar fazer, uma tarefa meio inglória, mas vou tentar para compreendermos isso aqui.
O Yogi Bhajan usa o self como é o tradicional nos Estados Unidos. Em inglês, o self indica uma entidade, digamos assim; prefiro usar o termo entidade. No yoga, o Yogi Bhajan usa o "inner self", uma entidade interna e uma social, digamos assim, essa que a gente chama de ser oculto no Kundalini Yoga, que não é nada oculto. É um tipo de identidade que a gente usa para se relacionar, omitindo a nossa sombra. Então esse ser interno, essa identidade interna que ele menciona aqui, é o que mais a gente poderia chegar perto da nossa identidade real. Seríamos nós mesmos se não tivéssemos tido um massacre na formatação do nosso subconsciente, se não tivéssemos tanto lixo no nosso subconsciente, a tal ponto de a gente não ter confiança suficiente para conseguirmos expressar nessa identidade real.
Na hora do conflito, nós escapamos do controle e recorremos a essa identidade social, já tão utilizada e tão automática, que é essa de nós escondermos de fato quem a gente é. Isso é tão importante no Kundalini Yoga porque o ser real, ou essa identidade interna, é de fato a única fonte de proteção que nós temos, porque a estrutura que alimenta esse ser interno é a alma, que contém todo manancial da nossa inteligência. Esse ser com quem a gente se relaciona, esse ser oculto, se alimenta no manancial do nosso intelecto, muito pobre, muito limitado no tempo e no espaço, muito pobre. O dia em que você é pego no intelecto acabou, você foi pego. Essa aula de hoje é para criar o campo eletromagnético e expandir essa identidade externa. Vamos fazer isso tudo com base no trabalho cerebral.
Kriya: Creating Magnetic Fields to Expand Your Inner Self, do manual Infinity and Me
Nós vamos fazer uma meditação com o Magic Mantra. Já que expandimos o campo eletromagnético e nossa identidade interna, precisamos cuidar agora para que a mente não retraia essa projeção com as nossas intrigas. Essa é uma meditação muito poderosa para mudar o mecanismo reflexo da sua mente.
Meditação: Meditation with the Magic Mantra, do manual Infinity and Me
O Yogi Bhajan fala páginas e páginas sobre o Magic Mantra, ele tem a propriedade de fazer com que a mente da gente faça uma reversão da sua estrutura natural de processar.
Vou falar brevemente sobre o trabalho com o Agni Granth. O nome Granth nos lembra o Siri Guru Granth Sahib. Granth é uma palavra muito especial em Gurmukhi, que quer dizer o sistema perfeito. Temos o Siri Guru Granth. Guru é uma palavra masculina, mas Granth não declina. Agni é feminino. Temos um sistema fechado perfeito, que é o sistema do fogo. Existem dois tipos de fogos no nosso corpo: um do plexo solar que é o fogo branco, ele é chamado branco porque não tem chama, mas é digestivo. O fogo branco é um fogo, mas não é Granth. Agni Granth é fogo, é um sistema fechado, que tem uma sabedoria inteira dentro de si, que é o fogo do coração. O Agni Granth é o fogo do coração. Ele é chamado de Granth porque todo o trabalho de manter o prana, limpar apana e processar impureza está no sangue, e o lugar onde tudo isso acontece se relaciona ao chacra do coração, que é coração e pulmão. Então é um sistema fechado de deixar o corpo humano inteiro pronto e vivo para servir.
O fogo digestivo processa apenas o metabolismo e ajuda a misturar prana e apana, mas o fogo do coração não só ajuda no metabolismo (limpa o corpo, leva oxigênio, traz impurezas, e então ajuda diretamente no metabolismo), mas também ajuda a aumentar a projeção do corpo radiante. Não só isso, o coração ainda tem uma rede de neurônios. Esse grupo de neurônios que está no coração traz essa sabedoria, essa inteligência do cérebro para o coração. E é por isso que o coração também faz uma coisa que chama-se de coerência cardíaca, quando o cérebro se alinha ao coração. A aula de hoje inteira foi para isso, para criar coerência cardíaca, usando o nosso sistema fechado, inteligente de purificar, nutrir e ainda por cima proteger, o Agni Granth.
O Yogi Bhajan diz que, quando esse sistema não está equilibrado, a gente usa a nossa força de nos estendermos ao outro para negá-lo. E eu vejo vocês fazendo isso demais, quando o outro ameaça, você nega, você se recolhe e usa esse fogo para desqualificar o outro: ele é isso, ele é aquilo. Então você se recolhe e usa as emoções que mais contraem o ser humano, que também veem do Agni Granth, que é a raiva, a maledicência... Essa defesa que vem da identidade inferior. Mas a aula de hoje faz a gente criar uma projeção do campo eletromagnético, a ponto de o outro não ameaçar, a ponto de você ter compaixão e querer saber do outro, a perspectiva da realidade a partir da posição do outro. Esse trabalho é um trabalho altamente especializado, que usa a parte cerebral superior. Nem todo ser humano faz isso, é preciso de treino e esse é trabalho do Kundalini Yoga para nos treinar a fazer isso. Por mais que o outro seja uma ameaça, ele não é uma ameaça suficiente para determinar como é que vou agir. Ainda quero olhar para a realidade a partir da visão do outro, sem gerar em mim esses sentimentos que me contraem e me fazem entrar na defesa instintiva. Esse é o trabalho maravilhosos do KY. É claro que nem todos nós vamos conseguir fazer isso nesta vida. Não tem problema, temos outras vidas, mas se a gente quiser fazer isso nesta vida, esse é o trabalho: não negar o outro que está na nossa frente como um desafio, que nos desacata, que nos tira do nosso lugar, que nos difama. Quantas mil vezes nós vamos falar disso, mas na hora em que a gente está na situação a tendência é seu corpo eletromagnético se recolher e o Agni Granth destruir o outro. Mas se o seu campo eletromagnético não se recolhe e você se projeta, você realmente entra na perspectiva do outro e em relação com a situação. Isso é muito diferente do que eu, também nesses vinte anos ou mais de Belo Horizonte, já vi. Vocês usam um gancho da situação e dizendo: “satnam, waheguru, deixa eu ver, se eu estou entendendo bem, você está querendo me dizer...” Nossa, gente, se eu estou do lado de lá e pessoa faz um negócio desses, não me desce pela garganta. Ninguém entende o que o outro está sentindo, o outro é um total desconhecido, não tem como entender o que ele está sentindo.
A gente nunca conhece o desconhecido. A única coisa que você pode conhecer é que tipo de relação você quer ter com o desconhecido. Você não entende, você tem de acreditar naquilo que a pessoa está sentido. Então você desautoriza o outro. É assim: embora eu não esteja te entendendo, eu quero compreender a sua perspectiva. Compreensão não passa pelo intelecto, sentir igual à outra pessoa. Compreensão passa pela empatia, estar no lugar da outra pessoa, compreender quer dizer o quanto a pessoa fez determinada coisa porque não conhece ou não teve as chances que eu tive. Isso é realmente compreender o outro. Não é sentir o outro, porque, na hora que você sente, a tendência é querer dominar o outro. Esse não é um trabalho fácil, e a gente tem de deixar de ter medo de perder a razão, o controle, de ser difamado.
O curso do Japji inteiro é para isso. Guru Nanak escreveu o Japji para isso. Vai ser bom a gente mergulhar nessa tecnologia, entender e usar isso para a gente fazer essa virada realmente. É muito importante esse tipo de aula ser compartilhada num momento como este que estamos vivendo. Não sei se vocês se lembram no Gurdwara de Ano Novo em que eu tive a honra de falar para a Sangat que este ano seria muito mais difícil que 2016, vocês se lembram disso? E a gente não imaginava o tanto que esse ano ia ser tão mais difícil. Nós estamos em junho. Tanta gente se matou este ano, muita gente se matou. Esse Agni Granth quando decide fazer limpeza é muito duro. E exige muito de nós o mínimo de equilíbrio, um mínimo de Magic Mantra para a gente ter um grau de compaixão e de discernimento para poder ajudar.
As nossas vidas estão sendo chacoalhadas, e a vidas das pessoas que se desprenderam e aprenderam a doar sem medo estão sendo chacoalhada menos. É a prova desse Dharma, quando você está vivendo numa crise em que todo mundo está afundando e se você não pensar em você, você afunda menos. Isso é óbvio. Alguém tem que ficar para servir. Vocês compreendem essa lógica? Se você pensa no outro, vive pelo outro e afunda com ela, aí eu digo que esse mundo é do satanás mesmo. Não tem lógica um negócio desses. Mas não é isso que os Gurus falaram para a gente, não é isso. O que o mundo falou para gente, que os mapas dizem é que se você não se serve, você tem que sobreviver porque você está sendo necessário. Essa é a lógica do nosso corpo, por que seria diferente numa macroestrutura? Vamos pensar mais no outro. Isso a gente também vai estudar demais no Curso do Japji, no primeiro Khand, no Dharam Khand, reverter essa lógica. Eu lembro que quando eu construí isso aqui (desculpem-me dizer que eu construí), e decidi doar para a Abaky, minha família – não a família direta, minha mãe, minha irmã. Eu posso decidir que amanhã minha bana vai ser andar nua em Belo Horizonte, que elas vão aplaudir – mas o restante da minha família...uma tia me ligou e perguntou o que a Maria ia ganhar. Esse tipo de lógica da nossa cultura, que você fez, é seu e não pode ser do outro, tem de ser rompido, eliminado. A lógica dármica é entregar para o outro e deixar que o todo entregue para a gente. Esse é o momento de a gente se entregar e usar o Agni Granth não para regir, não para rechaçar.
May the long time sun shine...
[Transcrição: Sada Ram Kaur]
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