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[GSK] Equilíbrio em meio ao movimento

Aula da Gurusangat Kaur Khalsa do dia 26 de fevereiro de 2016


[GSK abre a aula]


Nós vamos fazer uma aula hoje para alcançarmos uma essência dentro de nós, e eu vou usar um paralelo para que vocês compreendam um pouco melhor do que a gente está falando, para que a gente não fique apenas num conceito e num campo intangível, para que a gente possa levar isso para nossas vidas.


Na medicina, por anos, anos e anos, a gente usou um conceito chamado "homeostase". Se você não sabe o que é, você ao menos já ouviu falar. Homeotase é um conceito para quando tudo sai do lugar, tudo fica de cabeça para baixo, e você então para tudo e trás as coisas para um equilíbrio. É uma busca de equilíbrio em que a gente vai para o zero. Homeostase, na verdade, é zerar tudo. Esse conceito é usado desde os gregos antigos para quando voltamos para o zero.


Num correlato no yoga isso sempre existiu – é uma coisa absurda. Mas não no Kundalini Yoga. No Yoga de um modo geral, para todos aquele de nós, estrangeiros, que fomos à Índia tentar buscar e compreender com os nossos gurus, eles ensinaram isso que eles praticaram de alguma maneira, que é: quando você está fora do equilíbrio, você se retira do mundo. Você vai para uma caverna, você vai para um retiro, você vai para um hotel, para o mato, seja lá onde for, você se retira. A homeostase sempre foi você se retirar de onde está a sua fonte de desequilíbrio até você zerar tudo.


O Guru Nanak sempre ensinou o contrário. Ele ensinava que se a mente era a doença, ela era também a cura. E existe algum lugar na sua mente em que ela para? Não, não existe. Uma característica funcional da mente é ela fazer o quê? Pensar! E como o Guru Nanak punha a doença na mente – e ele tem razão –, mas como ele poderia colocar a cura na mente também? Ou seja, num lugar que nunca para? Ele estava recusando o conceito de que para reganhar o seu equilíbrio você precisa se retirar. E era isso então o corpo dessa tradição do Kundalini Yoga, que o Guru Nanak promoveu, é que você não precisa se retirar para se equilibrar, que nós somos yogis não da caverna, somos yogis da vida.


A medicina demorou dois milênios para falar sobre isso. E atualmente a gente não usa mais o conceito de homeostase, mas, sim, o de alostase. Vocês não podem esquecer esse nome. Alostase é quando você busca o seu equilíbrio sabe onde? Estando em desequilíbrio, estando em movimento, estando em conflito. É quando você reajusta sem necessariamente parar – que é o que faz nosso corpo. Nosso corpo nunca entra em homeostase; ele sempre entra em alostase. Era isso que o Yogi Bhajan falava: vocês ainda vão ter que esperar uns 30 anos para compreender em essência e explicar por que nós não utilizamos o conceito de homeostase. No nosso Nível 2 Estresse e Vitalidade nós já falamos de alostase, do ponto de vista médico. Vocês compreendem isso?


Nós já temos em nosso organismo um mecanismo nato; é muito mais difícil para nós irmos para uma caverna a fim de nós sararmos do que ficarmos em movimento, em conflito, em atribulações, a gente se organizar. Nós não temos que aprender a fazer isso porque o nosso corpo já sabe fazer isso. O que a gente tem é que nos convencer de que esse mecanismo, em que nós nos reequilibrarmos em movimento, em crise e em conflito, faz parte de uma herança que o nosso corpo já tem. O que a gente precisa é quebrar a crença. Quebrar a crença de que a gente precisa se isolar. Parar tudo. Então para a gente poder atingir esse silêncio dentro de nós, que não é uma ausência de ruído – todos os conceitos do Kundalini Yoga nos levam a essa conclusão da alostase – o nosso shunya não é uma ausência de vozes nem de ruídos. Shunya é um estado de consciência em que, a despeito do ruído, você está no nada, permitindo uma nova informação fluir.


Essa aula de hoje se chama "Alcance a sua essência". Seria nós chegarmos o mais profundamente em nós, num lugar onde existe uma voz – ela não é silenciosa, mas ela não é a voz da mente; ela é a voz da nossa essência. É uma voz que sabe o que quer nos dizer. Está certo? Então só pra gente poder chegar lá, eu queria que vocês perdessem essas caras de "meu Deus, que isso?" ou de "Madalena arrependida", e entrassem nesse kryia com a disposição de virarem vocês, e não esperarem serem tomados pela mão de Deus e serem retirados de cenas para poder naquele segundo dizer: "ah, por que que eu nunca fiz isso? por que eu nunca fiz o que eu tinha que fazer?" O que que vocês estão esperando para fazer o que precisam fazer? Ser vocês! Até quando vocês vão ficar tomando cafezinho e comendo broa às cinco da tarde? Até quando vocês ficar sorrindo quando tudo estiver bem e chorando quando tudo estiver mal? Está na hora de a gente parar de comer broa e tomar cafezinho e começar a fazer o que a gente tem que fazer.


[Aquecimento antes do kryia]


Todo processo de alostase cria um subproduto metabólico chamado "lixo alostático". É o resultado do processo de enfrentarmos o tranco. E esse lixo alostático é eliminado do nosso corpo quando a gente se alimenta bem, quando o nosso sistema digestivo metaboliza bem e quando nós estamos produzindo ocitocina, que é um hormônio neurotransmissor do prazer quando nós estamos em grupo. Então, um grupo em que a gente é feliz é algo muito importante. O ambiente em que a gente é feliz é muito importante, para o qual a gente possa ir. Ocitocina não se produz sozinho, quando você está só.


Essa aula do Yogi Bhajan é uma dessas aulas que tem realmente a capacidade de transformar a gente nesse tempo. É muito profunda. Não é uma aula que recomendaria a vocês darem numa sala de aula para iniciantes. De jeito nenhum. Vocês teriam que ter seus alunos com vocês há pelo menos cinco meses para estabelecer a relação de confiança que esse kryia exige. O professor nessa aula é tudo. Ele vai se entregar, ele vai ser o tapete, ele vai se estender entre o lugar em que a informação está ancorada e o destino do aluno. Esse trabalho é quase um tantra.


Kryia: "Alcance a sua essência", do livro Fountain of Youth


Esse kryia que a gente fez ele mexe com os elementos, ele reposiciona todos os tattvas especialmente quando a gente já tem determinados arranjos emocionais com nossos tattvas – uma quantidade de terra, uma quantidade de água etc – e esse kryia mexe nisso. Vocês foram reajustados. Algumas informações sobre essa prática que a gente fez hoje que gostaria de dizer é que a gente pode realmente fazer tudo, a gente pode estar na presença do Yogi Bhajan e ele por a gente numa determinada situação para que aquela situação nos rearranje, mas, em última instância, quem realmente decide, somos nós. Não adianta. Não tem milagre, vocês precisam decidir.


Eu vim do Fórum dos Professores no fim de semana e veio também a Hari Charan, que já é membro do KRI há muito tempo, e eu pedi a ela que falasse aos meus alunos do Fórum. E eles começaram assim: "ah, é muito bom, mas é uma pancadaria". E eu só ouvindo aquilo e pensando: "quando é que nós vamos nos elevar desse melodrama e dar um testemunho da beleza que é se transformar? E dar o testemunho de que não existe pancadaria onde existe amor, só existe pancadaria onde há a dualidade. Quantos fóruns ainda, quanto trabalho ainda é necessário para que um treinador possa falar com a voz da alma?" Esse foi meu retorno na hora. E eu pedi a Hari Charan um testemunho das "n" experiências que ela teve com o Yogi Bhajan.


Tem uma história que eu gosto demais. Existia uma mulher no dharma que se chamava Surya. Quem já fez o Nível 2 Relacionamentos Autênticos vai lembrar de uma aula em que o Yogi Bhajan dá uma surra nas mulheres. E ele começa a aula dizendo: "Surya, você é a mulher mais indesejada nessa sala, cai fora". E ninguém entende. A Surya era um diabo. Não é uma força de expressão, ela era realmente um diabo. E ninguém tinha coragem de falar nada com a Surya, porque ela pagava de volta. Ela era realmente muito vingativa. E um dia a Surya faz uma coisa terrível e a Hari Charan escreve para o Yogi Bhajan contando o que aconteceu, mas pôs no grupo algumas pessoas. A peça fundamental do Yogi Bhajan quando se tratava de nós da Sangat era que nós tínhamos que cobrir a honra um do outro, não importa o quanto estivesse errado. Só na presença coletiva do seu professor, a gente poderia falar as coisas nesse nível, do contrário, nós tínhamos que cobrir a honra um do outro. Então, o Yogi Bhajan manda chamar a Hari Charan. E ela então teve uma diarreia: "nó, o que foi que eu que fiz? ele me chamou!" Vocês sabem que ele não chamava para um tetê-à-tetê. E todo mundo dizendo assim: "que isso, você é tão boa, nada vai acontecer". E ela: "Não, a minha intuição está me dizendo que o bicho vai pegar".


Quando ela chegou, na hora marcada, havia umas 20 pessoas que Yogi Bhajan convidou especialmente para esse evento. Ele colocou Surya e Hari Charan uma de frente para a outra e disse para a Hari Charan: "diga para a Surya tudo o de ruim que ela faz". E todo mundo achou que ela jamais falaria. E a Hari Charan então mandou ver e falou tudo. Enquanto ela falava, todo mundo tentou interrompê-la ou diminuir a extensão do relato, pra tirar a Hari Charan daquela situação – porque eles estavam com medo do que a Surya poderia fazer. E então o Yogi Bhajan dizia: "vocês calem a boca e deixem-me fazer o meu trabalho. Estou fazendo uma terapia de 20 mil dólares com a Hari Charan que ela jamais terá dinheiro para fazer. Vocês confiem em mim e calem a boca". Na hora em que ela terminou de falar, ele olhou para a Hari Charan e falou: "Hari Charan, tudo que acontece de ruim neste darma é por sua causa" e "Tudo o que acontece de bom nesse darma é por sua causa, Surya. Conversa encerrada".


Claro que ele trabalhou zilhões de coisas na Hari Charan (coragem de enfrentar complexo, coragem de entregar uma mensagem para o demônio etc). Não dá pra interpretar um método de um mestre. Mas naquela hora, a Hari Charan falou: "todos os meus tattvas se dissolveram". Ela teve três dias de diarreias, vômitos, ela teve uma limpeza profunda. E ele ainda disse: "neste final de semana, você vai trabalhar full time". Ela ainda trabalhou sábado e domingo o tempo todo. E durante todo o fim de semana, ele aparecia de 11 em 11 minutos e falava: "toma isso", "come isso". Ele ficou com ela durante aquele fim de semana ajudando-a a processar. Ao final desse processo, ele disse: "Todas as vezes que você quiser facilitar que uma pessoa limpe seus karmas e seus tattvas se reorganizem para que vocês não ancorem capetas, e que vocês possam falar a verdade, façam esse kryia". Porque nós não temos mais o Yogi Bhajan para nos colocar em situações únicas desse jeito, onde ele quebrava qualquer lógica que pudesse existir e deixava a gente completamente nu conosco.

Essa foi a aula de hoje. Está certo, gente?


May the long time sun shine upon


[Transcrição: HariShabad Kaur Khalsa]

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