[GSK] Como enfrentar o mundo com o espírito
Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa no dia 31 de agosto de 2018
[GSK abre a aula]
Dando sequência ao tema da intuição, retomaremos uma aula que vocês fizeram comigo há não muito tempo chamada “Equilíbrio Total”. Faremos essa aula para criarmos a base para uma meditação importante, que atua justamente em alguns “padrões-gatilhos” que nos fazem sair da inteligência intuitiva e nos levam para nossa inteligência instintiva. É uma meditação muito nobre do kundalini yoga, mas pressupõe um trabalho bem grande de mobilizar o prana e o apana no corpo. Por isso, devemos fazer um trabalho maior de corpo, extenso e sutil.
Gostaria de tratar da intuição como parte de uma das casas do Prana. Recordemos que o Prana, com p maiúsculo, tem cinco casas. As duas mais conhecidas são o prana e o apana. Quero tratar da quinta casa, que é chamada vyana. Tem muito a ver com os processos intuitivos. É a casa de Prana que não se localiza propriamente no corpo físico, mas em volta dele. E é no vyana que todos os nossos corpos espirituais, desde o quinto corpo, se ajustam.
Quando temos pouco Prana nessa casa, temos pouca proteção e uma pequena projeção. O problema da pequena projeção não é nada em comparação à pouca proteção. Se acabamos com a proteção que vem do nosso Prana, do vyana, acionamos um mecanismo de estresse para buscar proteção. E aonde se produz o mecanismo de proteção do corpo físico?
Quando não temos a defesa do nosso corpo radiante, do vyana, a nossa defesa é aquela que conhecemos desde que éramos macacos: a defesa do instinto. E o instinto de defesa vem de um lugar do sistema nervoso chamado sistema límbico. Buscamos nele todo o mecanismo de defesa. O que nos informa, o que nos dá a noção exata da agressividade ou da fuga, é uma conversa glandular que ocorre entre as amígdalas.
As amígdalas, componentes do sistema límbico, são o lugar onde está contido todo o registro de trauma. Se não fossem as amígdalas seríamos pastelões. Não teríamos noção de nenhum perigo, de nenhuma dor, de nenhum trauma... Não teríamos nenhuma memória. Quando não possuímos um vyana forte, temos que contar com a nossa defesa mais arcaica, e essa defesa tem memória nas amígdalas. Ela nos induz a reagirmos usando a única coisa que conhecemos para nossa proteger, que é a força física.
Como não estamos na selva e o nosso agredir ou fugir mudou muito – porque já não andamos com o fêmur de um tigre por aí atacando ninguém – como é que se expressa a nossa defesa hoje? Como é nossa agressão?
É verbal. Sem tirar de cena a agressão física, hoje estamos muito mais requintados para criar formas verbais de agressão, como também formas não verbais. Aí está nossa miséria. Porque essas formas verbais e não verbais de agressão, que vêm daquele mesmo registro primitivo, utilizam o mesmo padrão emocional: o de vitimização ou de fazer-se de algoz.
Esse padrão de vítima e algoz só entra em cena porque não temos vyana desenvolvido, não temos esse Prana e não temos corpo radiante. Com o corpo radiante desenvolvido, interrompemos o risco muito antes. E como digerimos o risco? Com a intuição. A intuição é o que nos faz adiantar no tempo o perigo.
A mente que usamos quando a intuição diz “uh!” é a mente negativa. Ninguém quer ficar sem a mente negativa, porque uma intuição sem a mente negativa é o mesmo que um carro sem freio. Mesmo no processo em que nos adiantamos ao problema, ou olhamos para uma determinada pessoa e nos vem uma intuição, seja o que for, é a mente negativa que nos traz algum tipo de informação. Agora as mentes polarizadas estão a serviço da intuição.
Recordemos que o processo intuitivo é não racional: ele capta. Podemos duvidar. Então vem a mente negativa e nos fala, e temos agora uma forma de confirmar. Pegamos alguns elementos da mente negativa e dizemos: “opa, tenho que prestar atenção nisso, bem que eu tinha ouvido uma voz...”.
Isso não quer dizer que a intuição tenha a voz da mente negativa. Na verdade, ela convoca a mente negativa. A intuição é uma voz da alma, ela nos dá um alerta. Digamos que intuímos algo e o negócio revela-se bom. Quem é que vem nos dar uma confirmação disso? A mente positiva. Então a mente negativa e a mente positiva são um primeiro corpo que acionamos no kundalini yoga. É a primeira inteligência a serviço do segundo corpo, da segunda inteligência.
No Sat Nam Rasayan, quando vocês estão em processo de entrar no campo e há uma resistência, dizemos: permita. Não dissolva, permita. Quando uma resistência surge, ela convoca as mentes negativa e positiva, seja qual for. Se interpretamos a resistência saímos da nossa intuição, saímos do segundo corpo. Ficamos lidando com a interferência a partir do nosso primeiro corpo, das mentes polarizadas. Por isso, no Sat Nam Rasayan, nós permitimos, sem sequer querer saber. Aquilo passa pelo nosso filtro e vamos novamente para o campo, voltamos a intuir mais uma vez.
No processo de usar a intuição, estamos utilizando o Prana do vyana. Para fazer as práticas de Sat Nam Rasayan, precisamos criar muito Prana. Esse Prana que geramos é do vyana, a quinta casa do Prana, e é o que vamos fazer hoje. Estamos tão acostumados ao meio do primeiro corpo, que passamos pela inteligência intuitiva e logo vamos para a inteligência instintiva, porque esse é o caminho que mais conhecemos. É preciso saber essa distinção. Se queremos ser seres humanos mais efetivos e nobres precisamos ter vyana com Prana.
Kriya: Equilíbrio total, do manual Expanding Intuition
No livro do nível II de Relacionamentos Autênticos, há um parágrafo em que Yogi Bhajan diz que o mundo espiritual não é um mar de rosas, não é um lugar calmo onde tudo é florido. O mundo espiritual é um lugar onde nos colocamos presentes nesse mundo da matéria a partir do espírito, para enfrentarmos qualquer tipo de obstáculo e atravessá-los ainda com o espírito. Precisamos encher nosso vyana de Prana para enfrentarmos o mundo com o espírito.
Estamos manipulando um Prana de qualidade subatômica, que é muito poderoso. Esse Prana vai aonde quisermos, já que a mente o controla completamente. Para compreenderem a força desse Prana, imaginem uma catedral imensa e uma mosca no seu interior. A qualidade subatômica do Prana que manipulamos no kundalini yoga é como essa mosca em relação à matéria. Ela é quase invisível, mas é como se pesasse centenas de milhões de vezes o peso da catedral. Tal é a força desse Prana. Estamos lidando com uma qualidade subatômica da matéria que quase não ocupa espaço, mas tem um peso imenso, como se fosse milhões de vezes maior do que aquele espaço onde ela está contida. Quando acionamos aquilo, e então liberamos, temos um poder incrível.
Ao manipular esse Prana em vyana, nossa capacidade meditativa aumenta demais, sendo até difícil retornar. Esse tempo de contemplação que vocês tiveram, em que foram para esse lugar que nem sabem dizer onde fica, em que estão no fluxo, é o que nos foi omitido a vida inteira, como se isso fosse possível apenas para aqueles bem apessoados e divinos. No kundalini yoga, temos que levar nossos alunos a experimentarem isso que vocês experimentaram em apenas três minutos. Essa experiência de fluir na qualidade subatômica da matéria em que vocês são matéria mas se comportam como se fossem poeira cósmica. É uma matéria dissolvida, contudo, vocês ainda estão aqui. Isso se chama samadhi.
No sistema de redes que é o corpo, que é o kundalini yoga, que é o vyana, não vamos sustentar os braços no ar a partir dos próprios braços. O que segura nossos braços no ar é aquilo que tem raiz, que tem força, que são os ísquios com o terceiro chakra. Segura quem pode.
Esse Prana que está no vyana é uma proteção que nos dá espaço de fluir. Não existe registro de receio e medo quando temos forte o vyana. Os braços são importantes porque são eles que dão a dimensão de ampliação dos corpos sutis. É o sistema nervoso junto com esse corpo prânico. Precisamos trabalhar justamente para ganhar mais desse vigor prânico, que não se trata de força do músculo, mas de força da vontade.
Produzimos Prana demais, de qualidade subatômica, geramos um tipo de calor muito forte. Esse tapa, esse tipo de calor, não deve ser gerado em quantidade muito grande, de forma que não tenhamos mais karma nenhum a pagar. Na hora em que não tivermos mais karma para pagarmos, morreremos. Foi assim que o Guru Gobind Singh pediu para aquelas cinco pessoas meditarem, criando tanto tapa que se dissolveriam. Eles não morreriam, eles se dissolveriam. Eles o fizeram e a função deles agora é estar no primeiro éter e proteger todo mundo, de qualquer raça, etnia, enfim... Qualquer ser humano que tenha perdido a vida nas mãos de um algoz ou de uma injustiça, conta com eles lá para o receberem. Esse é o tipo de aula que pode gerar um tal tapa, que vocês pagam tanto karma, que tchau. Como nós não queremos isso ainda, vamos nos resfriar.
O relaxamento é o estado puro da nossa inocência, quando nossos próprios recursos de cura internos vão nos ajustar. É um estado de entrega gravitacional. O corpo cai pesadamente sobre o chão. Deixem que essa força da gravidade os deite bem deitados sobre a terra.
Meditação: Equilíbrio interno, do manual Expanding Intuition
May the long time sun...
[Transcrição: Arjan Jot Kaur]
[Edição: Nav Amrita Kaur]
[Supervisão: HariShabad Kaur Khalsa]
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