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[GSK] Choque de realidade

Aula ministrada por Gurusangat em 07 de agosto de 2015.


Vamos trazer as mãos em prana mudra, assentem-se de maneira elevada, expandida, com a coluna ereta e o peito aberto, queixo em ligeira jalandabhanda. Assuma sua identidade e postura yogica, e deiea fluir a partir dessa certeza.


[GSK abre a aula]

Sat Nam, vamos iniciar com um pequeno aquecimento para a coluna.

Em seguida passamos para o Kriya para elevação (Manual do professor página 17).


GSK: Yogi Bhajan gostava de dizer que por mais de dois mil anos nós temos sido enganados, porque há mais de dois mil anos tem sido dito para nós que alguém virá nos salvar. Nós estamos esperando um salvador. Ai fomos capturados nessa grande pegadinha; por que se alguém vem para nos salvar, nossa psique se acostumou com a ideia de termos um tutor, um Salvador daqui-Dalí, para tirar a gente da enrascada que nós nos colocamos. Aí ele fala assim: “Desculpa, mas ninguém vem para te salvar, você tem que se salvar! É você mesmo que precisa fazer isso!”. Essa chave cultural que nós temos – que é religiosa, mas que se tornou tão forte a ponto de virar um traço cultural, essa ideia de que alguém vem para nos salvar – por mais que você seja ateu, ou outra coisa qualquer, ou sikh ou budista ou xamanista, católico ou o que for, por mais que você não acredite nisso intelectualmente, quando se torna um traço cultural, passa a não depender do seu intelecto: você absorve aquilo e aquilo vira parte de você. Isso na nossa cultura é muito forte. Talvez por que na nossa cultura nós estejamos muito mais ligados ao que foi a tradição do barroco católico mineiro do que nós gostaríamos. Então isso, em nossa cultura, é muito forte: a ideia de termos um tutor, nós vivemos sob tutela e queremos ser tutelados. No Kundalini Yoga, que é uma tradição que vem do Dharma – em qualquer Dharma não existe a ideia de tutela. Você entrou aqui por que você quis; por que você concordou em entrar, você tinha um acordo e você concordou com aquele acordo, você veio e você vai aprender na conjunção da linha do espaço e do tempo. Essa é a regra desse plano – existe uma convergência de espaço e de tempo, em que você concordou, então agregue naquela convergência de espaço e de tempo a sua vontade, você. Então tudo que nós fazemos nessa vida é fazermos o que bem entendemos, a gente faz o que a gente pensa que a gente deveria fazer, nesse espaço e nesse tempo. Mas quando a gente entra nessa cunha de espaço e tempo, a gente sabe que existe uma vontade que é a nossa, e a vontade da nossa encarnação, que é o nosso contrato de alma – e é por ele que a gente está aqui, e a gente sabe que a gente se esqueceria dele. É um negócio bem ferrado!


(Alunos riem.)


GSK: Como a gente tem uma vontade, a gente tem um compromisso e quando a gente entra nessa cunha de espaço e de tempo a gente sabe que vai se esquecer dele. E aí então a gente penetra nesse mundo e vamos ter que ajustar nossa vontade – que a gente se torna consciente dela – com a vontade que a gente resolveu chamar de “vontade de Deus”, que na verdade nada mais é que a nossa própria vontade antes de nascermos. Mas como ajustar essas duas coisas é um negócio é muito difícil, é mais conveniente a gente esperar pelo salvador. Por que o salvador viria e diria: “não, vem cá, vou te mostrar, não é por aqui não, é por ali, e eu vou te levar lá...”. E isso não existe. Ninguém vai fazer isso por nós. No Kundalini Yoga, a gente faz isso na medida em que compreende duas coisas: a primeira é que não é errado ter desejo, de forma nenhuma, o desejo é uma coisa importantíssima. Por que os desejos são o que para a alma? O combustível. O desejo é um combustível, é um prana importantíssimo. O negócio é que os nossos desejos não deveriam ser atendidos para servir apenas ao nosso narcisismo. Essa é a história. O nosso desejo deveria ser combustível para que ao ser realizado, a gente se realize junto com muitos outros. Essa é a distinção. Quando você é capaz de nessa cunha de espaço e de tempo sentir o seu desejo, e dar vazão ao seu desejo, realizar o seu desejo de modo que não só você seja atendido, você está atendendo a vontade da sua alma, a vontade de Deus, a vontade do desconhecido. Então é fácil! A dificuldade vem justamente pelo segundo elemento – uma força interna, uma força prânica, que reverbera na linha do arco, que serve para podermos ter força de vontade e discernimento. Por que o conhecimento a gente tem, o negócio é no momento em que a gente é colocado para sentir o desejo, a gente optar ou não por aquilo que responde ao nosso narcisismo. Então a meditação é para gente aumentar essa linha do arco. E essas são as razões pelas quais a gente vê toda hora pessoas que tem todo o conhecimento, toda a beleza, toda a radiância, fraquejarem e se entregarem a uma caminhada narcísica. A nossa jornada na linha do tempo e do espaço que atende só a nós é paupérrima! Ela não traz mudança!


Essa tomada de consciência que causa um choque. Como é que é?


Aluna: A tomada de consciência causa um grande choque.


GSK: A tomada de consciência causa um grande choque. Mas acho que vocês ainda não entenderam.


A turma ri.


GSK: Essa cunha, essa vida que apenas é vivida para trazer prazer para gente, ela já era! Mas a gente toda hora cai e tem recaídas. Então o que a gente precisa é de uma forte radiância na linha do arco. Porque é essa linha do arco (no entorno da cabeça) que faz a gente discernir o que é correto para mim e o que é correto para minha alma. A linha do arco aqui de baixo, que as mulheres têm (que vai de mamilo a mamilo), é a linha do arco que vai ajudar as mulheres a saberem a quem o coração delas vai se entregar – que tipo de conexão amorosa eu farei?; que escolhas que eu faço, afetivas, que vão dar força ao meu propósito de alma? Afinal, uma história é discernir e a outra é como você se entrega, com quem você cria parcerias. A mulher tem essa outra linha do arco justamente para escolher quem serão seus parceiros, a quem ela vai dar o seu coração. Então vamos meditar.


Meditação para auto-benção e orientação através da intuição. (Manual do professor página 115).


GSK: Essa é uma meditação para nos autoabençoarmos e nos orientarmos pela nossa inteligência intuitiva.


Nós estamos precisando discernir e aplicar nossa inteligência porque as circunstâncias estão muito caóticas, então essa meditação ajuda a manter um alinhamento e uma tranquilidade.


É crucial para vocês nesses tempos difíceis – e tempos difíceis são maravilhosos, porque são eles que nos mostram o quão diferenciado nós estamos e o quão a gente pode realmente fazer algo espetacular nos tempos difíceis. Mas é um teste.


Há um caso que eu estou orientando no momento. É uma pessoa casada que se apaixona doidamente. O casamento depois de algum tempo – e quem é casado há algum tempo sabe – o casamento muda demais o tipo de envolvimento, não é a mesma coisa. E o Yogi Bhajan fala: “amor que encolhe não é amor, é paixão. O amor sustenta o insustentável”. Então chega num determinado momento em que o casamento muda de qualidade, a relação muda, a relação sexual muda, tudo muda. E aí essa pessoa continuou buscando, ela continuou buscando o quê?


Alunos: Paixão.


GSK: O desejo dela está ainda servindo apenas ao prazer narcisista dela. Ela se apaixonou por outra! E então abandona tudo. Mas quanto tempo isso iria durar? Vocês estão achando que isso é uma coisa pequena, parece ridículo ao ser contado e visto por essa ótica, mas esse tipo de coisa é característica dos tempos atuais. Precisamos selecionar as nossas relações, usar a linha do arco para criar um filtro. No momento em que a gente decide criar uma conexão com alguém, o fio de conexão não pode ser o do desejo sexual. Não pode ser. O fio de conexão tem de ser o propósito daquelas duas existências estarem unidas – um propósito maior. Por que se o fio da conexão for o sexo, quando ele acabar, acabou o fio de conexão.


Esse poder de discernir, você pensa bem, alguém colocar a própria vida num jogo amoroso, e aí quando o jogo amoroso acaba essa pessoa perde a vontade de viver. Essa pessoa está sofrendo muito, mas do que essa pessoa precisa? Sendo como vocês, conhecendo a tecnologia como vocês. Essa pessoa precisa do quê? Do choque da tomada de decisão! Ela precisa por a mão dentro da tomada de decisão e levar um choque! BUZZZZ! Por que a tomada de decisão dá fortes choques. E essa pessoa precisa tomar uma decisão que a alinhe de novo com o propósito da alma dela, e não dos órgãos sexuais dela!


(A turma ri.)


GSK: Que psique tem a “pitchuna”?


(A turma ri.)


GSK: Qual que é o dharma da “pitchuna”?


(A turma ri.)


GSK: Ela tem de ser inserida num conjunto, numa Sangat muito maior, nessa Sangat chamada organismo. Onde todas as partes desse organismo têm uma psique. Cada parte tem uma psique, cada parte tem o seu Dharma, cada parte passa pela sua dúvida, cada parte passa pela sua necessidade de realização. Pense nos nossas zilhões de células, imagine se cada uma delas quisesse alguma coisa? Todas elas trabalham sob um comando, o comando da mente. Por que a vagina ou o bráulio não vão trabalhar sob um comando? O comando da alma. O pênis tem uma psique. O que ele quer? Além de fazer xixi.


(A turma ri.)


Existe um momento em que temos de alinhar isso tudo com um comando muito maior. Porque os seres humanos que vivem a vida pautada pelos comandos do pênis e da vagina vão viver como animais. Claro!


É como o Yogi Bhajan ensinou: o comando é animal. E ele também diz que 10% são as circunstâncias, 10% é a nossa inteligência e 80% é o desconhecido! Então no desconhecido nós seremos totalmente testados. O nosso tempo-espaço com a nossa intenção. E o nosso teste vai ser: o que eu quero para mim?, e o que minha alma quer para mim? Nessa resposta, nessa confluência, está a sabedoria. Como eu garanto o que eu quero para mim sem desonrar o que minha alma quer para mim? Por que é uma parte importante minha. Só que não necessariamente elas querem a mesma coisa.


E aí então uma pessoa como essa vai ser capaz de confrontar o sofrimento dizendo: “Eu realmente estou sofrendo, mas isso é ridículo. Deixa eu me recolocar diante do infinito. E fazer escolhas de novo”. A sorte dessa pessoa é que ela veio conversar isso com a professora dela. Que saiu igual um raio de trovão cortando o ar para trazer a realidade de novo à tona!


Esses são os tempos. Esses são os tempos em que nós estamos sendo colocados diante de uma realidade que nós não quisemos olhar com olhos da neutralidade. Isso está doendo? Sim. As escolhas já estão aí para serem feitas? Não, ainda não estão. Não existe ainda, nós vamos ter de construir essas escolhas. Nós vamos ter de elaborar internamente e trazer para realidade política e social novas escolhas. O momento é auspicioso demais, porque ele é uma desconstrução total. E não existe nada melhor para uma desconstrução total do que a chance que ela dá para uma reconstrução. Nós não temos de lamentar. Os tempos agora estão exigindo que a gente tenha contenção. É igual quando você está numa postura muito difícil e você quer ir até o final. Você vai passar por aquilo pensando: esse negócio vai acabar, eu só vou manter minha resiliência. Nós estamos só precisando manter a contenção e não desesperarmos. Não ir desalinhado da alma e de você mesmo, para vocês poderem ajudar todos que precisam. E as pessoas vão precisar muito.


Esse semestre vai ser muito duro, nós temos que servir, alinhar as pessoas, nós temos que levar esperança, nós temos que ser catalizadores dessa mudança, e nós podemos fazer isso com a nossa presença e com a nossa frequência. Mas para isso precisamos estar alinhados, sempre com um sorriso no rosto e sempre lembrando que o caos social e político que estamos vivendo é como na vida da gente: quando ele acontece dá uma chance para gente se recolocar. É um momento importante para revermos as nossas posições e o nosso olhar crítico para irmos para a realidade. Temos de ter vigor na realidade.


Nós não tememos a escuridão. E a gente não quer só a luz. A gente sabe que esse é um ciclo.


May the long time...


[Transcrição: HariShabad Kaur Khalsa]

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