[GSK] A vitalidade do espaço sensível
Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa no dia 25 de maio de 2018
[Gurusangat abre a aula]
Vamos fazer um trabalho do livro “Reaching me in me”, e o título da aula “Ajuste natural” não fala muito. A história dessa aula de hoje é muito interessante porque pega o nervo ciático, que no kundalini yoga é referido como “nervo da vida”; enquanto o prana do kundalini aparece como “nervo da alma”. No kundalini yoga, temos esses dois nomes: o nervo da vida, o ciático, que faz o aterramento da base sacral, que é nossa região sagrada. O ciático é um nervo em nós que sempre reflete nossa estabilidade material, não só do nosso corpo físico, mas sobretudo a estabilidade material da nossa vida. Todas as vezes que o ser humano passa por uma turbulência em que suas bases são recolocadas, ou seja, grandes mudanças, uma nova inserção, uma perda de inserção etc, é o ciático que é o responsável por administrar esse prana que vem do sacro para região da terra. Esse é o papel do ciático.
Todas as vezes que, no kundalini yoga, trabalhamos o ciático, o que fazemos é pegarmos esse prana da terra e o recolocamos na base sacral. Para fazer esse serviço, o ciático é uma via de mão dupla. Essa aula pega o ciático e conecta esse prana com o nervo da alma, que é o chamado kundalini. Todas as vezes em que conectamos o nervo ciático com o nervo da alma, que é a energia do kundalini, fazemos uma coisa muito espetacular. Uma coisa que só vi isso sendo feita no kundalini yoga, que é pegar essa inteligência da terra, a inteligência do aterramento, que tem a ver com a gravidade, para algo muito especial que é típico da Casa Real do Guru Ram Das, que é nos deixar prontos e aptos a saborearmos maya sem nos apegarmos à maya.
O que maya tem de bom? O lado bom é vermos, por exemplo, a natureza das coisas prosperarem e podermos compartilhar essas mesmas coisas que prosperaram. Isso é a casa sagrada do Guru Ram Das. Vamos preservar isso. Vamos compartilhar a beleza daquilo que prospera e fazer tudo prosperar. Isso é maya, sem nos apegar. Isso é o ciático. Quando temos a associação do ciático com o kundalini, você desapega disso, faz um contrapeso, e você vai para outra força: a força de cima, a força dos céus, que é a força da consciência. Essas duas forças estão presentes nessa aula.
Nós temos duas forças, uma que nos prende à terra, que é a força de maya, e uma que nos eleva aos céus, que é a força da consciência. O campo gravitacional e o campo eletromagnético. Escrevi um pouquinho sobre isso num artigo que saiu no portal da Abaky, com uma profunda dor, sobre quando sucumbimos à maya. Nesta aula, ganhamos uma consciência dessa energia para ter força de prosperar e compartilhar, e tem uma força ascendente muito vigorosa que nos dá clareza mental e discernimento pra não nos corrompermos, para permanecermos fiéis aos valores. Nesta aula temos as forças shakti e bhakti operando, temos a força do céu e da terra operando, mas no corpo humano isso significa aterramento e liberdade. Inclusive é uma força de poder sobre nossos próprios deslizes, porque maya é tão intoxicante que faz com que a gente ceda, o apelo de maya é muito, muito grande.
Começo esse artigo contando uma história que o lorde Shiva chega para Deus maravilhado e pergunta: “Nossa! O que mais pode existir? É tudo tão lindo! Eu sou tão encantado com a vida, embora a vida me traga algumas vezes muitos confrontos e muitas baixas. Mas é tudo tão maravilhoso! Você podia me mostrar o que não conheço ainda, por que deve ser ainda mais maravilhoso”. E Deus falou: “Deixa isso pra lá, acho melhor não. Você está tão bem aqui, o que você vai querer ver?” E Shiva: “Não, por favor!” Aquele yogui maravilhoso que é o lorde Shiva pede a Deus dessa maneira e Deus concede e abre a porta pra ele da parte que ele não conhecia, que é maya. Aí ele pira o cabeção, começa a rodopiar e se perde. Maya tem esse apelo, de fazer com que a gente se perca, de tão sedutor que é a natureza das coisas. Essa aula equilibra essas duas forças, sem ter que fazer a gente negar maya, já que nós estamos aqui. Kundalini yoga não é para monjas e monges, é para gente que está em maya, vivendo.
Kriya: Ajuste natural do Manual Reaching Me in Me
Meditação para experimentar Deus
Geramos nessa aula uma qualidade de energia, que nos torna sensíveis, é ela que incorporamos no Sat Nam Rasayan. É uma energia que fica disponível para cura. Mas ela não fica disponível se não entramos em um determinado lugar desse radar. Esse campo sensível do Sat Nam Rasayan é um campo muito próprio chamado Pratyahar no yoga. Temos uma localização, ou em nós, ou em volta de nós, ou em algum elemento da nossa mente, nós localizamos e dissolvemos no campo. Aí nós estamos no campo e alguma coisa se localiza. É esse exercício de localizarmos e dissolvermos, localizarmos e dissolvermos. Produz um campo, facilita a entrada num campo, através desse Pratyahar, que é essa experiência que temos nesta aula, que no Sat Nam Rasayan chamamos de ‘campo sensível’.
O campo sensível, no kundalini yoga, é chamado de ‘espaço sagrado’. Esse campo sensível ou espaço sagrado é o lugar através no qual podemos nos assentar e promovermos ajustes. O que fazemos, tanto no Sat Nam Rasayan quanto nesses ajustes em sala de kundalini yoga, é alinhar os tais eixos. Porque no processo meditativo esse ajuste é feito através dos tattwas, o tempo todo. Então nessa semana, geramos muito dessa energia. Vocês podem usá-la pra si mesmos, e se forem fazer isso, deveriam colocar na sadhana de vocês, parar ao final de tudo e ficar nesse campo – não é para fazer nada. Não é para falar: “Ai, hoje estou com a perna doendo, vou pôr essa energia para baixo. Estou com ombro doendo, vou pôr essa energia para cima”. Não, por favor, não polua, não direcione, porque quem vai direcionar isso em você será ou seu intelecto ou o seu ego. Não direcione, deixe que sua alma maneje isso com a frequência do som. Tem um poder de cura muito grande, e especialmente aquieta a ansiedade. A meditação que fizemos, “Meditação para experimentar Deus”, é na verdade para experimentar esse espaço. Ele é um espaço tão de cura, e muitas vezes remove tanto samskara de nós, que nos sensibilizamos, sentimos uma emoção. Isso é muito natural da energia do Sol.
Quando vocês estiverem trabalhando com o surya mantra, que é o Rakhe Rakhanhar, e num mudra de surya, essa combinação é muito poderosa, ela aumenta o vigor, de forma muito passiva, igual é a Terra em relação ao Sol. Se a Terra não tivesse o Sol para poder enviar a ela essa energia, a segunda lei da termodinâmica já tinha levado a Terra pras cucuias, que é: se deixar um sistema em si, ele caminha da cadência para decadência, da organização para desorganização, e ele se deteriora. Isso só não acontece com a Terra porque ela tem um grande campo eletromagnético que a inspira, literalmente, que é o sol. Quando fazemos surya mudra com surya mantra, entramos nesse campo de transformar a nossa vitalidade, justamente para não decairmos – e isto é a segunda lei da termodinâmica. E essa força está no espaço sensível, porque o espaço sensível é o sol, e porque esse planeta foi habitado inicialmente pelos seres do sol. Vocês se lembram do curso do Japji? Somos uma linhagem que veio do sol. Lembrem-se disso quando forem dar a aula de vocês. Esse é um kriya que não dá uma vitalidade para você carregar uma arroba de feijão, mas nos dá vitalidade para carregarmos várias arrobas de negatividade e limpar.
Aluna: O ideal é que seja feito mais de manhã ou tanto faz?
GSK: Tanto faz, mas é ideal que se tenha o sol. Se você fizer isso quando tivemos Chandra, que é a lua, há um conflito nítido entre a energia do sol com a energia da lua. Especialmente os seus canais de vatta, que é um lugar do corpo que a medicina ayurvédica entende, não podem estar fechados, e os canais de vatta se fecham quando o sol se põe. Se sol se põe às 18h, eles se fecham às 18h, se sol se põe às 21h30, eles se fecham às 21h30, se ele se põe às 16h, eles se fecham às 16h. Tem a ver com o sol, e não com horário do relógio. A hora que o sol se põe, os canais de vatta se fecham, acabou, vocês não vão circular nenhuma energia de Surya, e acessar o espaço sensível é muito mais difícil. O espaço sensível é acessado com o sistema nervoso, que tem a ver com vatta, e quando vatta se recolhe, tudo se recolhe. Aí aumenta Chandra, que é a influência da lua, aumenta kaffa, aumenta o peso, o aterramento, a água. Façam isso enquanto tiver sol. E lembrem-se, quando vocês estiverem acessando o espaço sensível, o melhor é não tentarem intervir. Naquele momento em que tudo ocorre naturalmente, já não precisa mais fazer o Pratyahar, chegou uma coisa, você não resiste e incorpora. Quando já estiverem fluindo nesse espaço sensível, lembrem-se, nesse momento vocês estão fluindo em shuniya, então aproveitem. Pensou, acabou shuniya. Aproveitem para fluir. É o fluxo dessa consciência, desse nada.
May the long time sun....
[Transcrição: Arjan Jot Kaur]
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