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[GSK] A força de existirmos em nós mesmos

Aula ministrada por Gurusangat Kaur Khalsa em 17 de fevereiro de 2017


[GSK abre a aula]


Nosso trabalho hoje é com um kriya que vocês exercitaram quando vocês estavam lá no curso de formação, nível 1. É muito bonito, chama-se Base para o Infinito. Dito assim, parece uma coisa romântica, que eu tenho certeza que ninguém quer se negar a ela, a base para o infinito. Mas eu tenho certeza também que a maioria não está pronto para colocar em prática. De alguma maneira, a gente vive uma vida em que a gente reconhece a admite que os anos mais difíceis foram os primeiros cinquenta anos da nossa infância. Esses primeiros 50 anos da nossa infância são muito difíceis para nós. A gente vive como um adolescente, querendo ter prerrogativas, querendo ter alguns direitos garantidos, mas nós não gostamos muito de assumir a responsabilidade por aquilo. Então é uma vida muito dura essa dos primeiros 50 anos da nossa infância. E acontece que (porque nossa infância foi prolongada demais nesses anos em que a gente se negou à responsabilidade da luta, pelos direitos e pelas prerrogativas –, como um bom adolescente) isso é fora do tempo da psique humana.


É uma coisa muito estranha você passar 50 anos na infância. Como isso é estranho, o corpo estranha e é muito comum os vários tipos de adoecimentos dentro desse tema. Não estou dizendo que adoecer é anormal. É natural. Um dia vamos ter de adoecer e morrer. Ou cansados da vida ou doentes, não importa, isso ninguém sabe, mas eu estou falando daquele tipo de adoecimento que se dá quando você se nega à sua maturidade. O Yogi Bhajan diz “não existe nada como o problema, o problema é uma bolha que nós criamos por nossa autoignorância, ignorância de nós mesmos. E a solução de todo problema é criarmos a autoidentidade. Uma força de existir em nós mesmos.” Isso é idêntico à frase alicerce para o infinito, todo mundo acha bonito, mas na hora de pôr em prática acha difícil, muito difícil. O que quer dizer "pôr em prática" quando a gente faz um trabalho de alicerce para o infinito? O que vocês imaginam quando nos estamos querendo trabalhar em nós para a gente evitar esses 50 primeiros anos difíceis da infância? O que vocês imaginam, vocês são professores de Kundalini Yoga?


Aluno: uma maturidade física, mental, espiritual caminhando juntos?


GSK: Certo. Qual foi minha pergunta mesmo?


Aluno: O que significaria trabalhar o alicerce para o infinito na prática.


Aluno: Força do plexo.


GSK: Não! Existem muitas crianças de 50 anos com forte plexo. Elas têm muita capacidade de fazer birra e dizer mamãe eu quero, mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar, me dá chupeta... Elas estão todas com o plexo muito bom para gritar, fazer birra, fazer manha, somos nós. O que nós queremos trabalhar quando trabalhamos a base para o infinito? E aí você falou uma coisa importantíssima que é alinhar os três níveis de desenvolvimento, porque não é possível que haja o envelhecimento do nosso corpo físico e um atraso no desenvolvimento do nosso corpo emocional. O corpo espiritual é consequência do que?


Aluno: Do amadurecimento psíquico e emocional.


GSK: É lógico! É o resultado de quando a psique, a mente amadureceu junto com o corpo físico. É o resultado. O tal do corpo espiritual nada mais é que uma capacidade que você tem de, diante de problemas, enfrentá-los com sua identidade divina, com a sua verdadeira identidade, e não ficar preso na sua dualidade. A gente não vai adquirir o corpo espiritual no tempo. Ele é a nossa liberdade psíquica para visitar o infinito e trazer o componente do infinito para o finito. É a nossa liberdade psíquica de estar no finito e buscar no infinito algum tipo de inspiração. É essa liberdade de movimento. Você está confinado num problema, o problema existe. Se você está confinado no problema e reside no problema ontem, hoje, amanhã e sempre e eventualmente você coloca a cara fora do problema e volta para ele, você está focado, completamente engolido pelo problema. O corpo espiritual dá uma força psíquica para você poder não abdicar do problema, mas tratar dele a uma certa distância, para que você possa olhar para ele, inspirado por outras perspectivas. O simples fato de você estar num outro lugar, já faz com que você tenha uma outra frequência muito diferente da do problema. Isso é exatamente amadurecer. Não é não ter o problema, não tem jeito, mas é a gente não se identificar a ponto de nos tornarmos um com ele, é nos desidentificarmos daquele finito para ganharmos um tipo de identidade infinita. Mas como ganhar uma identidade infinita? Como eu vou para o infinito? A pergunta é boa, e é para vocês. Pode virar uma peça romântica ou uma filosofia de pasquim, que é: você está no problema, então se você ficar ali no problema, você não vai ver outra coisa além do problema, você precisa ir para o infinito, ir para outro lugar para ver o problema. Como é que você faz isso concretamente, para não virar só um blábláblá...?


Aluno: Através da oração.


GSK: Não, eu conheço gente que vai muito mais profundamente no finito na meditação e na oração. Quanto mais você faz uma oração estando no problema, mais a sua oração tem uma baixa frequência e mais você está mais ainda no problema. Oração, não dessa maneira.


Onde está o infinito? Onde está Deus? Vocês estão no problema e vocês escutam dizer que é preciso ir para o infinito para resolver o problema, o que você faz? Existem problemas de todas as ordens, de circunstâncias, de trabalho, etc... Quando você está no finito do problema, sair e ir para o infinito quer dizer mudar de perspectiva. Como nós mudamos de perspectiva? Depende. Pode ser visitando o outro, vendo como ele olha para a realidade muito diferente da sua, isso é mudança de perspectiva, ir para o outro, ir para o desconhecido, para o infinito, ir para Deus. Mas para fazerem isso, vocês têm de ter uma superdisposição porque, para olhar para a realidade do outro, você precisa abrir mão das suas convicções. Você está pronto para abrir mão das suas convicções? Isso não é fácil. Para vocês aprenderem a sair da bolha da ignorância e vencer esse problema você precisa ir para a autoidentidade. O Yogi Bhajan chama esse movimento de ir do finito para o infinito de autoidentidade, porque nós somos parte humana e parte divina. Isso é quando existe o outro na questão. Quando não existe o outro na questão, muitas vezes a gente só precisa mudar de perspectiva, sair de onde estamos e fazer diferente. Muitas vezes a gente precisa abrir no nosso campo eletromagnético um espaço para a gente simplesmente se expor de maneira diferente. Às vezes, a gente estabelece uma rotina, de caminhada, de nadar, de fazer um curso novo, a gente muda de perspectiva para quebrar o feitiço do problema. A aula de hoje é para isso, criar um alicerce para o infinito, e esse alicerce é nada mais, nada menos que uma coragem para sair da bolha da ignorância, é essa de você não ser capaz de se identificar com você mesmo, você se autoidentifica com o problema.


Aluno: Você criar uma perspectiva cósmica...


É. Eu só queria que isso ficasse em palavras mais concretas. De todas essas a mais fácil é você mudar de perspectiva, caminhar, nadar, fazer um curso. Isso é o mais fácil porque é bom. O mais difícil é quando está envolvido o outro e você tem de ir para a perspectiva do outro. Isso é o mais difícil porque você tem de abrir mão das suas prerrogativas. Isso é bem difícil. Bendito é aquele que vive isso, porque tem uma chance muito grande de crescer.


Kriya: Alicerce para o Infinito

Meditação: do livro A Prosperidade do espírito, do KRI


A meditação é para desenvolver segundo coração, o que espera, o coração da compaixão, não o coração que sangra. Esse nós todos temos. E ela aumenta demais esse espaço do coração, não para a gente ficar mais emocional, porque o coração não tem nada a ver com emoção. O triângulo inferior é que tem a ver com a emoção. O coração tem a ver com dar passagem para uma compreensão maior dessas emoções.


O que eu quero que vocês lembrem com essa aula é isto: quando a gente tem um problema, tudo que a gente quer é a solução. E a gente escuta dizer que a solução do problema está dentro dele mesmo. E faz todo sentido. Só que, quando a gente tem a solução, a gente não quer o problema, mas toda solução traz outro problema, senão não seria justo. Isso me faz lembrar aquela história que conta que Hanakash(?) era um rei muito mal, há várias histórias dele no Siri Guru Granth Sahib. Ele era um diabo, morava num castelo maravilhoso e tinha uma mulher que tinha tudo. Ela era uma rainha e vivia num castelo com tudo que era possível dar a ela. O rei então um dia sai para caçar e é visitado por um grande demônio. Essa pessoa era muito má, mas era superamiga do rei. Quando ele chega no castelo e falam que fulano está aí, todo mundo some. Vocês conhecem esse tipo de força! Pois bem, ele entra e pergunta pelo rei. E respondem que o rei tinha ido caçar. Ele lamenta muito bravo que não era possível que tinha ido no dia errado. Então o homem que atende ele, para fazer média diz: “o rei não está, mas rainha está, é quase a mesma coisa.” Ele concorda: “vou ver a rainha.” E foi. Quando a rainha viu quem era, ficou muito aliviada. Ele perguntou o que poderia fazer por ela, pois estava lá para fazer um favor para o rei e como ele não estava, ele faria qualquer coisa que a rainha escolhesse. E ela: “nossa, mas foi Deus que te mandou, eu sou superinfeliz aqui. Eu vivo presa neste castelo, eu não faço nada, tenho todo o conforto, tenho tudo isso, mas vivo presa, não posso sair para outro lugar, a minha vida é horrível, você tem noção do tanto que minha vida é ruim?” Vocês conhecem mulher reclamando... “E tudo que eu quero é poder voar, visitar outras terras.” E ele: “Você quer voar?”, ele perguntou três vezes e ela confirmou três vezes. Aí ele fez qualquer coisa e a mulher saiu voando. E ela então ficou louca com aquela vida, visitou todos os lugares, e voava, e voava, e voava, e voava, e voava... Um dia a vida dela começou a ficar um inferno porque ela só voava... Ela já tinha perdido a prerrogativa do castelo e tudo que ela queria era poder voltar.


Então o Siri Guru Granth Sahib quando conta essa história é para lembrar a gente que quando a gente tem um problema, a gente quer uma solução, mas toda solução carrega em si um problema. A gente deveria saber administrar isso conscientemente. Não existe nenhuma condição que nos é dada que é permanentemente boa ou ruim.


May the long time sun shine upon you...


[Transcrição: Sada Ram Kaur]

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