HUMANOLOGIA
A ciência da psicologia aplicada
Ilustração de Janis Souza
COMUNICAÇÃO CONSCIENTE
“Comunicação é um dom para se conhecer.
Comunicação é um dom para se entender.
Comunicação é um dom para a realização.
Se você não usar a comunicação para essas três coisas,
é melhor você se calar e não conversar.”
Yogi Bhajan
Hoje, mais do que em qualquer outra época, percebemos tamanho impacto da comunicação nas nossas vidas. Ela é, de fato, o veículo que nos conecta com pessoas e instituições, grupos e ideias, crenças e hábitos, e, até mesmo, com nossos propósitos e nossa vitalidade. Sabemos que a nossa própria humanidade é caracterizada pela interação e, na época em que vivemos, essa interação é intensa, veloz e muitas vezes rasa. "Tempos líquidos", na expressão certeira (e já calejada), de Zygmunt Bauman.
O ser humano tem na linguagem a sua forma efetiva de criar conexões e laços - ou de desfazê-los. Mas de que maneira essa capacidade criativa da comunicação acontece? Nossa postura (física e moral) comunica o tempo todo quem somos ou escolhemos ser. "Em Kundalini Yoga, consideramos que a comunicação é tudo. Nós criamos o mundo através da comunicação" [1]. Portanto, compreender a comunicação e estar cada vez mais consciente dela é uma forma – tão desafiante quanto rica – de estabelecer uma relação mais verdadeira e original consigo, com outras pessoas e, de modo amplo, com a vastidão da própria vida.
"O propósito da comunicação é descarregar o seu eu inteiro, direta e completamente. O modo da comunicação consciente fazer isto é com consciência, gentileza e sem medo." [2]
Qualificar suas palavras, bem como os elementos não-verbais da sua comunicação, estimula a vitalidade e a clareza e traz para você uma projeção de confiança, inspiração, nobreza e compaixão. Do contrário, se a comunicação é inconsciente e reativa, a palavra se esvazia, perde o foco e pode gerar dúvidas e emoções, como desinteresse, indiferença, medo e, até, raiva. Na comunicação consciente, você de modo algum está isolado, como emissor de uma mensagem: você está integrado ao outro, atento à perspectiva que ele traz.
Frequentemente, a comunicação é falha porque essa escuta não é trabalhada; isso inclui as “palavras não ditas”. Para alcançar o coração do outro na comunicação, é preciso abrir-se para a percepção consciente de si e desse outro, aprendendo a escutar, a permitir se corrigir e a incentivar o ajuste do outro, e manter-se em equilíbrio diante do confronto, sempre qualificando suas próprias palavras e sob controle das suas próprias reatividades (muitas vezes instantâneas e inconscientes).
Yogi Bhajan reconhece alguns princípios valiosos que nos norteiam em toda comunicação. São as chamadas Regras da Comunicação Consciente, comentadas abaixo:
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Entregar a cabeça: Aprender a ceder, a reconhecer a perspectiva do outro, sem se colocar como “dono da razão”; e não criar justificativas ("As justificativas são auto-abusos", Yogi Bhajan; “A justificativa é o decreto da pobreza espiritual”, Gurusangat Kaur; e “a rendição é doce”, Siri Sahib Singh).
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Lei do Silêncio: Aprender a silenciar e a permitir os momentos em que o silêncio é o elemento que instaura a compreensão, em si e/ou no outro. Não viver como um pregador.
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Criar uma ressonância (empatia) com o ouvinte: Aprender a cultivar o espaço com seu ouvinte é garantir a ele um relaxamento para ser autêntico. Esse relaxamento somente se tornará possível se ele sentir que não há julgamento na escuta.
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“Comunicação consciente não tem a ver com o que você sente, com o que você sabe ou com o que você quer. É uma ciência, é uma arte. Para alcançá-la, você primeiro precisa entender o outro”, Yogi Bhajan.
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Sair do conhecido e ir para o desconhecido: esse desconhecido, no caso, é sempre o outro. É preciso estar disposto a conviver, ceder e conciliar. Não partir da garantia que se conhece o outro, que ele seria previsível, que suas ações e intenções são evidentes para você e para ele mesmo.
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Criar duas unidades: a) entre a inteligência aplicada e a consciência, e b) entre a cabeça e o coração. É permitir um fluxo maduro entre a racionalidade e a emoção, sem excluir uma ou outra.
A maior parte de nossos desgastes, de perdas de energias e de atritos em nossas relações se deve a uma comunicação mal conduzida. "Quando nos comunicamos num estado muito emotivo, com muita frequência nós não nos escutamos". "Vocês devem compreender o tipo de vibração e o tipo de terremoto que vocês trazem para sua comunicação", já dizia Yogi Bhajan. Por isso, enquanto não interrompermos nossa necessidade (baseada nos medos e nas inseguranças) de ter razão, nossa comunicação nunca fará sentido.
Nossas palavras carregam muita energia e criam realidades. Quando nós aplicamos nossa inteligência numa situação de conflito de interesses, nesse momento, nos tornamos capazes de conter nosso impulso primal de defesa e de sobrevivência e conseguimos, de fato, acessar o assunto sem medos, abrindo um espaço em que o outro possa entrar e se sentir confortável. Comunicar conscientemente é, portanto, a porta de acesso do seu ser autêntico. É não se render à conveniência das circunstâncias, nem à sedução de impressionar alguém; tampouco ao imperativo egóico de ficar bem na fita. Aquele que se comunica conscientemente não tece jogos de interesses, não manipula com fofocas e não estende redes de medo e drama sobre o outro. Comunicar conscientemente é ter o coração compassivo, projetando o melhor de si para construir juntos, sustentando propósitos e elevando a todos.
"O segredo do sucesso, do viver de maneira efetiva, e o segredo da existência coordenada e cheia de sucesso é trazer os céus para a terra. Traga os céus para enfrentar os desafios da terra. Você nunca, jamais perderá. Perder não é possível. No momento em que você enfrenta a terra com a terra, você cria uma tempestade de areia. No momento em que você traz os céus para enfrentar a terra, tudo florescerá, haverá vida e frescor", Yogi Bhajan
[1) 3HO. Conscious Communication.
https://www.3ho.org/3ho-lifestyle/conscious-communication
[2] KRI: Kundalini Research Institute. Treinamento Internacional de Professor. Nível 2: Comunicação Consciente. 2009.